Aldeia

Aldeia (vem da língua árabe aD-Dai'â), ou vilarejo, é toda a povoação, normalmente rural, com poucos habitantes e sem autonomia administrativa, isto é, um aglomerado populacional de categoria inferior a vila.

Outra teoria é que deriva do grego aldaineim (Bluteau). Nas Leges Barbarorum, no Édito de Rotari, referem-se os aldios (aldi) ou aldeões assim como aldias ou aldianas, que eram uma espécie de semi-servos restituidos quase à total liberdade e as suas habitações eram chamadas de aldearias.

Segundo a Autoridade Turística Nacional, Turismo de Portugal I. P., o País conta com 26.797 aldeias.

26.797 Aldeias - Que caminhos vai descobrir?

Acorde num destes lugares, abra a janela e experimente a sensação de ter feito uma viagem no tempo. Caminhe por aldeias cheias de histórias para contar, cuidadas e preparadas para o receber. Delicie-se com temperos caseiros e maravilhe-se com a infindável variedade de produtos regionais como o pão, os queijos, os enchidos e presuntos e a doçaria tradicional. E, ao cair da noite, apure o ouvido para um concerto de grilos, cigarras, rãs e corujas.

Protegidas por Parques Naturais, serras remotas, praias piscatórias ou planícies sem fim, as aldeias portuguesas revelam-nos alguns dos segredos mais bem guardados do nosso país. As suas tradições, património e gastronomia assumem um carácter único que vale a pena descobrir sem pressas e com todos os sentidos bem despertos.

Vida em comunidade

Comecemos então por duas aldeias comunitárias situadas nos extremos norte do país, uma em Trás-os-Montes e a outra no Minho, onde as suas gentes ainda partilham as tarefas, as terras e os espaços. É assim em Rio de Onor, que até a língua (um dialecto muito antigo) tem em comum com os vizinhos espanhóis de Rihonor de Castilla, como é também na minhota Pitões das Júnias, palco vivo da secular tradição da “vezeira”, o pastoreio conjunto dos rebanhos.

Tanto numa como noutra região a mesa é farta e as refeições bem regadas, mas se em Trás-os-Montes reinam o fumeiro (alheira, presunto, chouriço) e a carne de vitela (posta mirandesa), já no Minho destacam-se o popular caldo verde, os rojões e os assados, sempre acompanhados pelo vinho verde da região.

Aldeias do Xisto

Aninhadas entre montes e serras, estão também as 24 aldeias-do-xisto do centro do país, agora reunidas numa rede turística que mostra aos visitantes a excelência paisagística, gastronómica e cultural desta região. Gondramaz (Miranda do Corvo), com as suas figuras trabalhadas pelos escultores locais, Talasnal, escondida no meio da Serra da Lousã, ou a Aldeia da Pena, de onde os amantes da natureza podem partir à descoberta dos Penedos de Góis, são apenas três exemplos de recuperação e revitalização que vale a pena conhecer.

Por estas paragens, o mel tem origem protegida e o medronho é aproveitado para fazer compotas e aguardente, enquanto do forno saem o pão caseiro e o famoso cabrito assado. Autêntico ex libris gastronómico da região é também a chanfana, cuja base é a carne de cabra cozinhada num rico caldo à base de vinho tinto e temperos. A iguaria vai ao forno a lenha nos caçoilos de barro preto do Olho Marinho, a aldeia de Vila Nova de Poiares que produz esta curiosa olaria.

Aldeias Históricas

Ainda pela região centro, mas mais para os lados da fronteira com Espanha, agrupam-se também as 12 Aldeias Históricas de Portugal, antiquíssimos núcleos populacionais enquadrados por paisagens monumentais. Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso são hoje sinónimo de preservação urbana, numa área onde a defesa do património é o denominador comum, mas a singularidade e a história individual são valorizadas em cada pormenor.

Aqui se encontra o melhor da gastronomia beirã, até porque o cabrito, o borrego, os enchidos e o azeite ainda fazem parte do quotidiano local. O queijo, o pão, as castanhas e as cerejas são outros produtos regionais de excelência que o visitante pode descobrir, através de uma viagem por sabores tão únicos como cada uma das Aldeias Históricas.

O branco da cal e o azul do mar

Do negro das casas de xisto, típicas das terras altas do norte e do centro, passemos agora para o branco imaculado das aldeias alentejanas, perdidas no meio da quente e tranquila planície. São Gregório, no concelho de Borba, é uma daquelas terras onde apetece ficar para sempre. Recuperada para o turismo, respira os ares da Serra D`Ossa e a tranquilidade típica desta região, numa paisagem rodeada de vinhedos.

Sossego é também o que se encontra na aldeia de Évoramonte (Estremoz), com as suas pacatas ruas e o imponente castelo medieval suspenso no horizonte, em Brotas (Mora), onde está um templo quinhentista palco da devoção a Nossa Senhora das Brotas, ou em Santa Susana (Alcácer do Sal), com a sua pequena igreja e casinhas de rés-do-chão que acentuam o ar pitoresco deste povoado.

É claro que em todas elas se come muito bem, ou não estivéssemos nós no Alentejo. As açordas, feitas com pão, água e ervas aromáticas, o pão estaladiço, as migas e o ensopado de borrego fazem as honras da gastronomia regional, que podemos descobrir em típicos restaurantes ou tascas de petiscos. Quanto à bebida? Vinho alentejano, claro!

Ao longo do nosso litoral é possível encontrar pacatas aldeias piscatórias, com tradições que continuam a resistir ao bulício dos meses mais quentes. Na praia da Tocha (Cantanhede), por exemplo, ainda se mantêm o essencial da arte xávega, uma técnica de arrasto que termina com o puxar das redes até ao areal, partilhado pelos barcos típicos e pelos veraneantes. Transformado em destino de mar e sol, este povoado recuperou também os antigos palheiros dos pescadores, que servem agora de casas de férias.

Mais a sul, a aldeia ribeirinha da Carrasqueira, em plena Reserva Natural do Estuário do Sado e vizinha da Comporta, conserva, igualmente, os típicos palheiros da beira-Sado (casas de madeira cobertas de caniço), mas destaca-se sobretudo por uma obra-prima da arquitectura popular: o cais palafítico, que se estende pelos esteiros lamacentos do rio.

Já no Algarve, são várias as aldeias piscatórias que vale a pena conhecer, como Cacela-a-Velha, situada no extremo Este do Parque Natural de Ria Formosa, ponto onde acaba a ria, no meio das dunas e a caminho da praia de Manta Rota. A aldeia ergue-se no cimo de um morro, com vistas fabulosas sobre a costa, e conserva as suas características tradicionais na arquitectura popular e na gastronomia típica. Aqui servem-se bifes de atum, petiscos de amêijoas e muito peixe grelhado, exemplo perfeito da melhor comida do “reino” dos Algarves.

Lugares e sabores saloios

Engana-se quem pensar que na região de Lisboa já não existem refúgios pacatos e tranquilos. Basta fazer alguns quilómetros para encontrar as típicas aldeias saloias de Loures, Sintra, Odivelas e Mafra. Um bom exemplo é Caneças, imortalizada pelo filme “A Aldeia da Roupa Branca” onde se mostra precisamente a vivência das gentes saloias. As tradições populares são também retratadas nas famosas figuras de barro da aldeia miniatura do Sobreiro, criada por José Fonte Franco, um ceramista local que, como disse o escritor brasileiro Jorge Amado, “nasceu para criar beleza”. Da gastronomia desta região destaca-se o famoso Pão de Mafra, bem como o bacalhau e as favas à saloia, regados, de preferência, com o afamado vinho da Estremadura, extraído dos vinhedos que emolduram os belos cenários destas terras.


Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo…
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura…

Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro
in
O Guardador de Rebanhos

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