Lisboa 1964

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adicionado por Luis BentoLuis Bento em 1266149887|%e %b %Y|agohover

Com mais ou menos brejeirice, iniciamos hoje, um ciclo de histórias da vida do escriba, aqui e ali, salpicada de humor, crítica de costumes e pinceladas de análise social duma era, da qual, não foram tiradas fotocópias…

Com mais de dois dedos de testa e outros tantos de dilatação dera entrada na maternidade, às nove horas da noite, aflita de dores e rebentada de águas. Numa consoada abençoada por Deus e apadrinhada pelo Natal dos Hospitais, fora obrigada a suportar as dores com paninhos quentes, supositórios bem-uron e muito “schiu” de enfermeira para não acordar as “outras”.
Às nove da manhã de vinte seis de dezembro de mil novecentos e sessenta e quatro dera à luz um macho raquítico, lingrinhas, roxo de berraria e excesso de permanência uterina no meio de dúzia e meia de médicos mal encarados, bêbados de sono e a arrotar bolo rei temperado a vinho do Porto.

Numa época em que o inglês ainda não era obrigatório por força duma reles redacção de vinte e cinco linhas cheias de erros ortográficos do engenheiro Sócrates, o moço, ganhara o nome em homenagem ao mexicano que aquecia os corações das donas de casa, no constante circular das setenta e oito rotações de Luis Alberto del Paraná, aos microfones da Emissora Nacional mesmo antes do folhetim diário da “coxinha do Tide”. Abençoado pela casualidade divina do apelido paterno e da coragem e intrepidez do avô José Gonçalves, dava à estampa, no meio de outros cromos ilustres, Luís Alberto Gonçalves Bento.

À semelhança das toneladas de gente oriunda da “terra”, os seus pais tinham vindo para Lisboa em demanda, não do Santo Graal, mas sim em busca do milagre da multiplicação dos pães. Mesmo ao virar da esquina do engrossar das fileiras na luta contra “os turras”, junto ao cruzamento dos ventos de liberdade e abundância da França onde, os mais novos começariam a ter marcação constante no livro de faltas, o futuro escriba idolatrado por Angelina Jolie, passaria a infância num bairro de gente envelhecida, com a quarta classe mal alinhavada, completada, já na idade adulta, levando atrasos de comboio regional para juntar três ou quatro letras, num espaço urbano delineado à boa maneira do Estado Novo, numa arquitectura e tipologia que estruturava as pessoas com maiores e menores recursos.

(continua)

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