A Capela ou Ermida de Nossa Senhora das Vitórias está localizada nas Furnas, concelho de Povoação, na ilha açoriana de São Miguel. É um dos mais ricos e originais templos dos Açores. Foi mandada levantar pelo ilustre micaelense José do Canto, em consequência de um voto formulado por ocasião de uma doença grave de sua esposa, Maria Guilhermina Taveira Brum do Canto. O seu testamento, escrito em 27 de Junho de 1862, diz:
Tendo feito, durante a maior gravidade da moléstia de minha esposa, em 1854, o voto de edificar uma pequena capela da invocação de Nossa Senhora das Vitórias, e não havendo realizado ainda o meu propósito por circunstâncias alheias à minha vontade, ordeno que se faça a dita edificação, no caso que ao tempo da minha morte não esteja feita, no sítio que havia escolhido, junto da Lagoa das Furnas, com aquela decência, e boa disposição em que eu, se vivo fora, a teria edificado.
A ermida foi levantada ainda em vida de José do Canto, do que resultou que a mesma ficasse a constituir uma pequena maravilha artística, em estilo neo-gótico, imitando as grandes catedrais europeias. Foi inaugurada solenemente no dia 15 de Agosto de 1886, ainda em vida de José do Canto, referindo-se os jornais do tempo, a essa festa, em termos elogiosos.
Capela de Nossa Senhora das Vitórias (foto da autoria de Luís Silveira Luís Silveira) |
Descrição
A Capela de Nossa Senhora das Vitórias foi construída nas imediações da casa de veraneio de José do Canto, que nela se encontra sepultado com sua esposa. Foi erguida na margem sul da Lagoa das Furnas, em plano ligeiramente elevado e orientada para o espelho de água, com caminho de serventia marginal, tendo por pano de fundo o denso arvoredo da propriedade de que faz parte.
O plano foi confiado ao arquitecto André Breton, que em 1864 realizou os desenhos de arquitectura. A Ermida, cujo sistema construtivo é de cantaria basáltica bem aparelhada, em fiadas paralelas, de bom tufo local, teve execução de mestres micaelenses, sob a chefia do Mestre António de Sousa Redemoinho, de Vila Franca do Campo, e estava em fase inicial por meados da década de 1870. Em 1882, em vias de receber o remate piramidal da torre, aproximava-se da conclusão. O programa de Breton, influenciado directamente pela Igreja do Seminário de Angers, por indicação expressa do encomendante, define-se um espaço cruciforme, com o comprimento de pequena nave rectangular cerca de um terço menor que a extensão conjunta desde o cruzeiro ao fundo da cabeceira, em ábside redonda, abobadada e nervurada. Nos braços do amplo transepto, os remates absidiolares, bem marcados exteriormente na sua forma hemicircular, servem de capela invocada a São José, no lado nascente, e de sacristia aberta, no seu oposto. A toda a altura dos alçados interiores, meias colunas adossadas, de capitel esculpido e soco quadrado, com correspondência exterior de contrafortes, delimitam panos de parede e servem de suporte à organização de arcos de volta perfeita, com dupla função de arcos torais, onde repousam as abóbadas de berço. Nervuradas também nas coberturas extremas do braço da cruz, têm variante arestada no cruzeiro.
À distância de 4 metros do pavimento, rasgam-se 13 janelas de cerca de 3 metros de altura, em arcada redonda: duas geminadas nos alçados da nave e três, simples, na capela axial e em cada cabeceira do transepto, enquadradas nos panos definidos pelos elementos estruturais acima referidos. Para estes vãos, a oficina de "Mégnen, Clamens et Borderau", executou os vitrais em 1883/ 84, de acordo com orienação transmitida por José do Canto relativamente aos motivos. Encaixilhados de ferro e protegidos por rede do mesmo metal, os vitrais foram aplicados por técnico daquela oficina. Quanto ao pavimento, recebeu ladrilho azulejado, segundo padrões da oficina "Moisseron et L. André", que os executou em fins de 1883.
O frontispício da Ermida , a que se chega por escadaria de dois breves lanços de quatro degraus cada um, com seu patamar intermédio, conforma-se ao corpo saliente da torre sineira. Definindo-se-lhe o plano térreo em nártex de planta rectangular e cobertura abobadada de berço sobrecruzada de pesadps liernes, cada superfície exterior abre-se em pórtico. Grossos colunelos de envasamentos cilíndricos e capitéis com severos motivos de estilizado geometrismo suportam as massas redondas dos arcos e suas repetidas molduras. Para cerrar o acesso ao interior, a oficina "Moisseron et L. André" executaram uma macissa porta de madeira, reforçada com chaparia de bronze, que recebeu protecção de grade de ferro pelos mesmos desenhada e realizada. Escalonada a torre em três níveis, o superior, emergindo acima dos alçados da Ermida, tem ênfase de verticalidade pela projecção do elegante pináculo, de secção octogonal e lados desiguais que o remata, envolvido por quatro pequenos coruchéus de cobertura cónica, assentes no arredondamento dos ângulos, esguiamente fenestrados, da sineira. Contrasta com esta imagem de elevação goticista a inspiração românica dominante nas estruturas do programa e na composição decorativa da arquitectura. Por lembrança da mesma matriz parisiense e gosto de conhecida aceitação francesa, aquelas oficinas forneceram, igualmente, equipamentos e ornatos exigidos pela função litúrgica.
A hierarquia dos valores temáticos e de utência tem correspondência na diversidade compositiva. A talha ediculada e com dourados, que serve de pano de fundo ao altar principal, onde o mármore da imaginária que o percorre é nota saliente, afirma-se em fidelidade à gramática neoromânica, também presente na grade que separa o santuário do corpo da Ermida, na simplificada organização do altar de São José ou, na esculpida forma marmórea da pia de água benta. Outro é o compromisso de recuperação tardogótica do púlpito octogonal de madeira, ritmado de estatuária esculpida adossada, que passa a expressão neoclassicizante no móvel destinado aos paramentos ou na cadeira do celebrante. Tornadas síntese de liberdade decorativa e ornamental, aquelas adaptações do programa da Ermida de Nossa Senhora das Vitórias resolvem-se, também, com a figuração de São José e o Menino, feita imitação tardogótica e, como as anteriores, da mesma oficina "Moisseron et L. André", mas que na estátua da Virgem tutelar teve versão romana da imagem parisiense. Completa o eclectismo destes artefactos,a sugestão bizantina dos bronzes dourados e esmaltados de luzeiros, tocheiros e banqueta esteriotipados escolhidos no repertório dos ditos "Moisseron et L. André".
A capela ficou muitíssimo valorizada com riquíssimos vitrais. A imagem do altar-mor é feita de jaspe e os vitrais que circundam o templo evocam passos da vida de Nossa Senhora desde o nascimento à assumpção.
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