Castelo de Santa Maria da Feira

Castelo de Santa Maria da Feira
Feira

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O Castelo da Feira, também denominado como Castelo de Santa Maria ou Castelo de Santa Maria da Feira, localiza-se na freguesia da Feira, na cidade e concelho de Santa Maria da Feira, Distrito de Aveiro.

Outrora cabeça da Terra de Faria, ex-libris de Santa Maria da Feira, é considerado como um dos exemplos mais completos da arquitectura militar medieval portuguesa, uma vez que nele se encontra representada a vasta gama de elementos defensivos empregados no período.

História

Antecedentes

Embora a primitiva ocupação humana do seu sítio remonte à pré-história, adquiriu maior relevância quando os Lusitanos aqui ergueram um templo em honra da divindade Bandeve-Lugo Tueræus. Após a Invasão romana da Península Ibérica, por aqui passava a estrada que unia Olissipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga), conforme os testemunhos arqueológicos que remetem esta ocupação ao período do Baixo-Império.

O castelo medieval

À época da Reconquista cristã da península, este centro religioso pagão tendo sido transformado em um centro mariano, desenvolveu-se aqui uma feira regional, cuja elevada expressão daria nome ao local (Feira de Santa Maria).

A primeira referência documental à sua fortificação consta na Chronica Gothorum (anônimo, fins do século XII), que noticia a vitória de Bermudo III de Leão (1028-1037) sobre um chefe Mouro em terras do Castelo de Santa Maria (1045). Será deste período a construção da parte inferior da Torre de Menagem com funções de alcáçova, protegida por uma cerca amuralhada, da qual restam apenas os vestígios.

O reino de Portugal e a Dinastia Afonsina

Quando D. Henrique (1095-1112) recebeu as terras do Condado Portucalense (1095), estas incluíam os domínios não só deste Castelo de Santa Maria, mas também o Castelo de Guimarães, o Castelo de Faria e o Castelo de Neiva. Com o falecimento do Conde, diante da ascendência do galego Fernão Peres de Trava sobre a viúva, D. Teresa, os senhores ao sul do rio Minho, insatisfeitos, se organizaram em torno do jovem D. Afonso Henriques, que, nesse ínterim, se armou cavaleiro (1125).

Parte expressiva desta articulação política terá tido lugar nas terras e Castelo de Santa Maria, sob o domínio do nobre Ermígio Moniz, culminando na batalha de São Mamede (Guimarães, 1128), razão pela qual se afirma ser este monumento o verdadeiro berço da independência de Portugal. As terras de Santa Maria compreendiam, à época, um extenso domínio que se estendia, em grandes linhas, da orla marítima até ao curso do rio Arda e, desde o curso do rio Douro até ao sul de Ovar e de Oliveira de Azeméis.

No testamento de D. Sancho I (1185-1211), redigido em 1188, este foi o principal dos cinco castelos ali previstos pelo soberano para eventual refúgio da rainha, quando viúva, e das infantas.

Em 1282, D. Dinis (1279-1325), incluiu-o entre os doze castelos assegurados como arras a sua consorte, a Rainha Santa Isabel. Mais tarde, ainda neste período, foi tomado pelas forças do infante D. Afonso, em luta contra o soberano, seu pai. Quando celebrada a paz entre ambos, por iniciativa da Rainha Santa (1322), o domínio deste castelo (entre outros) foi outorgado a D. Afonso, mediante o compromisso de menagem prestado por este último ao pai. Posteriormente, em 1357, era seu alcaide o nobre Gonçalo Garcia de Figueiredo.

O rei D. Fernando (1367-1383) fez a doação das Terras de Santa Maria e seu castelo a D. João Afonso Telo de Meneses, conde de Barcelos (10 de Setembro de 1372), que instituiu como alcaide do castelo a D. Martim Correia.

A Dinastia de Avis

Ao eclodir a Crise de 1383-1385, o conde de Barcelos tomou partido por Castela, atitude seguida pelo alcaide do castelo. Em 1385, o castelo e os domínios foram conquistados pelo alcaide do Castelo de Penedono, Gonçalo Vasques Coutinho, com o auxílio de recursos e gentes do Porto, para serem entregues ao Mestre de Avis, que por sua vez os entregou a D. Álvaro Pereira (primo do Condestável D. Nuno Álvares Pereira) (8 de Abril). Posteriormente, o novo soberano concedeu o castelo a João Rodrigues de Sá.

O rei D. Afonso V (1438-1481) fez mercê deste castelo a Fernão Pereira, 3º senhor da Feira, com a obrigação de fazer os reparos que se lhe impunham (1448), posteriormente sucedido por seu filho, Rui Vaz Pereira, primeiro conde da Feira. É deste período a atual conformação do monumento e a sua adaptação às funções de residência senhorial, em que se hospedou o rei D. Manuel I (1495-1521), quando de sua peregrinação a Santiago de Compostela (1502). Na segunda metade do século XV, D. Diogo Forjaz, 4º conde da Feira, procedeu-lhe novas reformas, entre as quais se destaca a construção da torre do relógio (desaparecida com o terramoto de 1755), conforme inscrição epigráfica numa lápide colocada sobre a porta da barbacã (1562).
[editar] Do séculos XVII ao XIX

No século XVII construiu-se dentro dos muros o Palacete dos Condes da Feira, demolido em 1929, e do qual apenas restam algumas paredes, a escadaria e o fontanário. Do mesmo período é a edificação da Capela de Nossa Senhora da Encarnação, sobre outra, mais antiga, da mesma invocação, por iniciativa de D. Joana Forjaz Pereira de Meneses e Silva, condessa da Feira, inaugurada em 1656.

Extinta a representação dos condes da Feira (1700), o conjunto passou para o património da Casa do Infantado (1708). Em 15 de Janeiro de 1722 um violento incêndio devastou imóvel, votando-o a um longo período de abandono e ruína.

No século XIX, iniciou-se uma tímida recuperação do monumento: encerradas as Guerras Liberais em Portugal, o imóvel e terras anexas foram adquiridos em hasta pública pelo general Silva Pereira (1835); visitadas por membros da família real (1852); e o poço do castelo desentulhado por iniciativa da Câmara Municipal (1887).

Do século XX aos nossos dias

No início do século XX, renovou-se o interesse público pelo monumento. Uma campanha de subscrição pública angariou fundos para obras de restauração do imóvel, cujas ruínas passaram a ser vigiadas por um guarda. Nesse período, os Drs. Gonçalves Coelho e Vaz Ferreira descobriram três inscrições.

As primeiras obras de recuperação foram executadas pela Direcção de Obras Públicas (1907), visitadas pelo rei D. Manuel II (1908-1910) no ano seguinte. Em 1909 foi criada uma Comissão de Protecção e de Conservação do Castelo, tendo se procedido obras de beneficiação e restauro às custas de Fortunato Fonseca. O castelo foi considerado como Monumento Nacional por Decreto de 16 de Junho de 1910.

A partir de 1927, as visitas ao monumento passaram a ser pagas. A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) executou obras de consolidação e restauro nos períodos de 1935-1936, de 1939-1944 e mais recentemente, em 1986. Um novo acesso foi aberto desde 1950, e inaugurada a iluminação exterior do monumento em 1963, trabalhos que o valorizaram.

Entretanto, a Vila da Feira passou a cidade, sob a designação de Santa Maria da Feira pelo Decreto-lei n° 39 de 14 de Agosto de 1985.

Características

O conjunto apresenta planta oval irregular, orientada no sentido Norte-Sul, em estilo gótico, tendo incorporado elementos de outros estilos ao longo dos séculos.

Com muralhas em alvenaria e cantaria de pedra, do período inicial, a Torre de Menagem domina a alcáçova; do final do século XV, datam as adaptações às demandas da pirobalística. Em seu interior, na ampla praça de armas, encontram-se ainda os vestígios do antigo palácio seiscentista.

A porta da barbacã, coroada pelo brasão dos Pereiras é protegida por duas torres quadrangulares adossadas: a sudoeste, a Torre da Casamata, atrás da qual se encontra um recinto quadrangular e abobadado onde se alojavam os soldados e que servia como bateria com troneiras nos muros exteriores; no lado oposto a Torre do Poço, protegendo a nascente.

Pela porta da barbacã acessam-se, sucessivamente, a porta da Vila e a praça de armas, na qual se situa a Torre de Menagem. Esta torre-alcáçova, ergue-se em três pavimentos: no inferior, a cisterna; no segundo o salão nobre, destacando-se três lareiras, um fogão e quatro janelas, três delas com conversadeiras; no terceiro a área residencial íntima.

A seguir à Torre de Menagem, rematada com coruchéus cónicos, o visitante encontra a tenalha, precedida pelo chamado pátio da traição (onde se abre a respectiva porta). Em lado oposto à tenalha, adossada à muralha da cerca erguem-se a capela, de planta hexagonal, sob a invocação de Nossa Senhora da Encarnação, e a Casa da Capelania, em estilo barroco.

Bibliografia

  • GIL, Júlio; CABRITA, Augusto. Os mais belos castelos e fortalezas de Portugal (4ª ed.). Lisboa; São Paulo: Editorial Verbo, 1996. 309p. fotos, mapas. ISBN 972-22-1135-8

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