Aqui se relata a história da freguesia da Relva, concelho de Ponta Delgada.
Século XV
Quando Rui Gonçalves da Câmara, comprou a capitania da Ilha de São Miguel, no ano de 1474, Ponta Delgada, era já um lugar, e terá então a partir desta data, sofrido um desenvolvimento populacional considerável, é a par deste incremento da população, também em outras zonas da Ilha que se acentua as dadas de terras, em regime de sesmarias.
Com este desenvolvimento, torna-se necessário a criação do cargo de Contador da Fazenda Real para todas as Ilhas dos Açores, embora residindo em São Miguel , podendo até ter sido criado um pouco antes, como veremos adiante. Será então nesta conjuntura, ou talvez um pouco antes que terá sido nomeado para o cargo de Contador da Fazenda Real, para todo o arquipélago, Martim Vaz de Bulhão , que exerceu o cargo por mais de cinquenta anos , e em 1526, era Contador nos Açores António Borges , pelo que terá chegado a esta Ilha, entre 1472 e 1475 , e a sua fazenda, seria composta pelas terras que foram dadas no lugar de Ponta Delgada a 16 de Abril de 1472 , outra referência documentada que poderá confirmar a sua presença aqui é o Capítulo do regimento das sesmarias que a Infanta D. Beatriz, enquanto tutora de seu filho D. Diogo o Duque de Viseu, por este ser menor lhe enviou , antes de 1483, ano em que este já era maior , por este regimento ele e o almoxarife deram terras ao Capitão Rui Gonçalves da Câmara, depois deste comprar a capitania da Ilha , e ele mesmo afirmou numa carta enviada ao monarca D. Manuel I, ter sido criado da Infanta D. Beatriz, de seu filho D. Diogo.
Começando o povoamento desta Ilha, por volta do ano de 1439, pelos lugares da Povoação e Vila Franca do Campo e depois em Ponta Delgada , logo nos primeiros tempos a zona que depois se desenvolveria como Relva, terá tido contacto com o homem, pois vinham os moradores de Vila Franca, em barcos, pela costa, e saiam em terra, onde hoje é Santa Clara, e praticavam por esta zona da Relva grandes caçadas de porcos monteses, por haver muitos, onde permaneciam dois ou três dias, enquanto durava a caça, regressando depois a suas casas, bem providos de alimento.
Com a ocupação humana a estender-se até Ponta Delgada, e a fixação nela dos seus primeiros moradores, por volta de 1450 , o espaço que hoje conhecemos por Relva, vai conhecer outra realidade, com os habitantes desta nova localidade a mandarem os moços e pastores, a levar seus gados a pastar à “Relva”, por neste lugar haver boa erva, onde os “mantinham e criavam”, dai provém o nome desta freguesia “Relva”. Com a chegada do Contador Martim Vaz de Bulhão, e do Capitão Rui Gonçalves da Câmara a Ilha, entrou numa nova fase de povoamento, com muitas terras dadas em regime de sesmaria, o que a Relva, não seria excepção, pois o seu relevo é plano e de fácil acesso, pelo lado de Ponta Delgada , e com uma nascente permanente de água doce junto ao mar , isto para além dos seus terrenos serem bastante férteis.
Com as terras da Ilha a serem dadas, em regime de sesmaria, também o Contador Martim Vaz de Bulhão, que terá chegado entre 1472 e 1475 , obteve uma grande quantidade de terras, da mesma forma atrás referenciada, e estas foram, nesse local, e que constituíam sua fazenda, podendo então se dizer que o povoamento deste local, se terá dado com a ocupação pelo homem do espaço que hoje conhecemos como a freguesia da Relva, com as gentes de Martim Vaz, a habitar nela, e ele próprio aqui fixou sua residência. Pelo estudo feito sobre o povoamento da Ilha de São Miguel, se poderá concluir que a zona da Relva, terá sido oficialmente povoada a partir da fixação neste local de Martim Vaz com a sua gente, pelos anos de 1472 a 1475 , embora por essas bandas, já vivessem pastores a guardar o gado dos moradores de Ponta Delgada, em cabanas improvisadas, e que nas últimas duas décadas do século de quatrocentos, já seria uma pequena povoação. Não seria de se supor que esta entidade oficial, com grandes responsabilidades, pois ele é o responsável pelas finanças régias em todo o arquipélago, tivesse como seu local de residência Vila Franca do Campo, onde se instalara o Almoxarifado, e posteriormente a Alfândega, o certo é que se instalou no lugar conhecido como “Relva”, constituindo nele sua fazenda com as referidas terras que lhe foram dadas e dando início ao seu povoamento, e ele próprio, anos depois terá influenciado a transferência da Alfândega para Ponta Delgada. Este Martim Vaz de Bulhão, ou simplesmente Martim Vaz generoso homem, nobre, prudente, e grandioso, criado D’el-rei, do hábito de Cristo, escudeiro da Casa Real, o célebre contador e vedor da Real Fazenda em todas as ilhas dos Açores o primeiro a exercer o cargo neste arquipélago – fidalgo de Portugal; que povou a Relva e nela viveu na com a sua gente.
Exercendo estes cargos por mais de cinquenta anos, casou no Castelo de Almourol, com Isabel Botelho, sobrinha de Rui Velho, comendador de Almourol e sobrinho de Frei Gonçalo Velho Cabral primeiro Capitão do Donatário desta ilha , era Isabel Botelho sobrinha em segundo grau de Frei Gonçalo Velho Cabral e neta de Diogo Gonçalves de Travassos e de D. Violante Velho. Não existe registo de que ainda fosse vivo depois do ano de 1525 e em 1526 era Contador nos Açores António Borges. Este deveria ter sido pessoa importante, não só pelo cargo que desempenhava, mas igualmente pelo número de terras que aqui possuía, as quais formavam sua Fazenda, que lhe rendia em cada ano mais de 100 moios de trigo , e que lhe haviam sido dadas de sesmaria. Tomando em atenção as datas atrás referidas é muito provável que estas fossem, como já vimos, as que foram doadas no lugar de Ponta Delgada a 16 de Abril de 1472 . Terá então se instalado na Relva entre 1472 e 1475 , onde já alguns pastores guardavam gado por nela haver boa erva, onde se vê que já aqui estaria nos citados anos, e permaneceu até à sua morte que ocorreu antes do ano de 1534. Repartiu a Fazenda por seus herdeiros, Manuel de Melo casado com Antónia de Bulhão , Maria Travassos casada com Garcia Roiz Camelo , Joana Botelho casada com Simão Roiz Rebelo e Filipa de Melo casada com Bartolomeu Godinho Machado, creado d’ el Rei, cavaleiro fidalgo da Casa Real.
De entre outros que se terão fixado na Relva no século XV, foram, Diogo Velho, filho de Nuno Velho de Travassos e de Isabel Afonso, neto de Diogo Gonçalves de Travassos e de D. Violante Cabral , sobrinho em segundo grau de Frei Gonçalo Velho Cabral, 1º Capitão Donatário desta Ilha de São Miguel, primo de Isabel Botelho mulher do Contador Martim Vaz , e sobrinho de Pedro Velho, que fez a ermida dos Remédios na Lagoa, casando na Relva este Diogo Velho com Maria Falcão de nobre geração , esta Maria Falcão depois de viúva voltou a casar na Relva com António Lopes também desta freguesia , era filha de Diogo Preto e de Catarina de Olivença, este Diogo Preto era homem nobre de Vila Franca do Campo, que foi escrivão em toda a ilha de São Miguel, teve mercê de escudeiro aposentado por carta régia de D. João II de 27 de Julho de 1486 , instituiu um vinculo por testamento feito em 1512, para seu filho, que também se chamava Diogo Preto, e na falta de descendência deste, para a filha Maria Falcão.
Ainda no testamento de Rui Gonçalves da Câmara, 3º Capitão Donatário da Ilha de São Miguel, realizado a 21 de Novembro de 1497, em Vila Franca do Campo, este mandou seu testamenteiro dar, cinco moios de cal a Maria Falcão, filha de Diogo Preto, para a ajudar a fazer sua casa , que seria na Relva, onde casou, como já se disse com Diogo Velho e a sua descendência continuou a viver nesta freguesia , juntar-se-iam escravos, criados e outros trabalhadores que a essses ricos e nobres povoadores estivessem ligados. No princípio da sua história, como lugar povoado, e à semelhança de outros, congéneres da Ilha, esteve sob a jurisdição de Vila Franca do Campo, mesmo após a elevação de Ponta Delgada a Vila no ano de 1499, por el-rei D. Manuel I, esta permaneceu ligada à antiga capital , e como o primeiro alvará havia sido escrito em papel e se rompera, voltou o mesmo monarca a passar outro em pergaminho, aos vinte e oito de Maio de 1507, e aí alargou o seu termo para uma légua ao seu redor, fazendo “o seu limite além da Relva” , ficando a partir desta data em que se verificou o primeiro alargamento do limite do concelho de Ponta Delgada que terá ficado, sob o domínio do novo concelho , e o seu número de moradores, já havia aumentado, por no documento da renovação do foral, não ser feita qualquer referência a outras freguesias, hoje mais próximas de Ponta Delgada, talvez por estas ainda estarem muito pouco povoadas ou ainda desabitadas, e esta já ter um número de residentes considerável para a época.
Contudo, o seu desenvolvimento seria já acentuado no início do século XVI, e terá sido criada a Freguesia de Nossa Senhora das Neves da Relva, em data anterior ao ano de 1514? No entanto já em 1526, e pelo o Livro do Almoxarife de S. Miguel – 1526 – 1527, pode ser considerada, como uma das mais antigas e principais freguesias micaelenses , as quais nessa época eram “São Miguel de Vila Franca; São Sebastião da Vila de Ponta Delgada; Nossa Senhora da Estrela da Vila da Ribeira Grande; Nossa Senhora dos Anjos da Vila de Água de Pau; Santa Cruz da Vila da Lagoa; São Jorge da Vila do Nordeste; Nossa Senhora das Neves da Relva; Santa Luzia das Feteiras; Santo António; Nossa Senhora da Luz dos Fenais; Bom Jesus de Rabo de Peixe; Nossa Senhora da Graça do Porto Formoso; Divino Espírito Santo da Maia; Nossa Senhora da Anunciação da Achada e Nossa Senhora da Graça do Faial da Terra”, havendo também outros povoados, que constituíam arrabaldes destas e que mais tarde foram também promovidoa a freguesias.
Fonte da Rocha
A água é um elemento essencial à vida humana, e é também factor que determina a fixação do homem em qualquer lugar. O povoamento de qualquer região está dependente de alguns elementos, e sem dúvida que a água será dos mais importantes. Já há muito que se sabe que o povoamento da região da Relva é muito antigo, mas que factores teriam contribuído para fixação do homem neste local em tempos tão distantes?
Vários visto que a Relva é possuidora de boas terras, das mais férteis da ilha, e mais o facto de ter água própria, e esta é sem dúvida a nascente de água conhecida por Fonte da Rocha. É de admitir que o povoamento oficial da Relva, se tenha dado com a fixação neste local do Contador Martim Vaz de Bulhão, o primeiro a exercer o cargo neste arquipélago que deverá ter aqui chegado entre 1472 a 1475, onde até então alguns pastores guardavam gado, por neste lugar haver boa erva.
Segundo o Dr. Gaspar Frutuoso, foi o referido Contador quem mandou fazer o caminho que leva aquela nascente , e que terá sido das primeiras decisões que terá tomado, e desta forma abastecer de água a sua gente, e que muito tempo depois, quando Frutuoso escrevia a sua crónica, isto é pela década de 80 do século XVI, ainda se chamava Fonte do Contador, e abastecia a freguesia.
Durante séculos em tempo de secas muitas vezes, a população desta freguesia se socorreu desta nascente, onde durante grande parte do século XX, era habitual as mulheres irem lavar lá roupa, nas pias ainda hoje existentes. Ainda na época estival muitos eram os que aí se iam banhar no mar, e durante todo o ano como ainda hoje muitos vão pescar, ou apanhar lapas quando estas abundavam. As pias existentes junto da nascente, mesmo à ao pé do mar, são classificadas do século XV e consideradas das mais antigas da Ilha.
Contador Martim Vaz de Bulhão
O seu povoamento decorreu por volta de 1472-1475, pelo Contador Martim Vaz de Bulhão. Em finais do século XV, a Relva já era uma pequena aldeia. Ao que parece, toda a freguesia cresceu e desenvolveu-se em redor da casa do referido Contador, um fidalgo riquíssimo que aqui viveu na época do povoamento, numa casa de grande riqueza. Era ele, se assim se pode dizer, o centro de toda esta região.
Século XVI
É a freguesia da Relva referida quando se alude à grande peste negra que grassou em Ponta Delgada nos anos de 1523 e 1531. Fugindo ao flagelo muita gente da então Vila de Ponta Delgada se veio recolher à freguesia da Relva e às Feteiras e, apesar disso, a peste alastrou-se, e entre a Relva e as Feteiras se enterraram mais de duzentos corpos vítimas da terrível epidemia, nos finais do século XVI, tinha Relva 137 fogos e 447 habitantes. É Gaspar Frutuoso que nos refere na sua excelente obra sobre os Açores.
Criação da freguesia e paróquia de Nossa Senhora das Neves da Relva
Não se sabe ao certo a data da criação da Freguesia e da Paróquia de Nossa Senhora das Neves da Relva, sendo uma das mais antigas da ilha de São Miguel. Pode-se no entanto admitir que teria sido antes do ano de 1514 porque a Confraria do Santíssimo Sacramento, no seu início, pertenceu à Ordem de Cristo. Esta ordem teve as ilhas dos Açores sob jurisdição espiritual até à criação da Diocese do Funchal, a 12 de Junho do referido ano. Com a instituição do Bispado Madeirense ficaram estas ilhas sujeitas à nova diocese.
Já no ano de 1526, no livro do Almoxarife de São Miguel onde estão registadas as ordinárias pagas pela Fazenda Real nessa ilha do ano de 1526, está registado o seguinte:
- "A Álvaro Annes, Capelão de Nossa Senhora das Neves, (Relva)"1;
- "Nossa Senhora das Neves (Relva) das Terras do Contador"2, o pagamento da congrua a Alvares Anes capelão de Nossa Senhora das Neves (Relva), com a congrua de 7$000 reis mas que recebeu 2$500 reis porque começou a servir do primeiro dia de Setembro do ano de 1526;
- São mencionadas as ordinárias novas para o dito ano de 15263, não fazendo referência à de Nossa Senhora das Neves, pelo que se entende que esta já existia;
- No recibo "Igreja do Contador"4, desconhecendo-se qual terá sido o antecessor ou antecessores de Álvaro Annes, (neste tempo os diversos párocos desta ilha eram conhecidos pelos títulos de Curas ou Capelães, excepto o de Vila Franca que tinha o de Vigário).
No tempo do ouvidor Marcos de Sampaio nos anos de 1526 e 1527, em que se enumeram as quinze freguesias que apenas existiam em São Miguel está Nossa Senhora das Neves da Relva e Alvares Anes (segundo Gaspar Frutuoso) como primeiro padre que houve nesta igreja e freguesia com a congrua de 7$000 reis e que ainda estava nos anos de 1526 e 1527, levando-nos a supor que a sua colocação aqui foi anterior a esta data. Por outra este não terá sido o primeiro, pois o autor das Saudades da Terra não terá sabido se qual o padre ou padres que terão servido nesta paróquia, nem o seu nome , como em outras igrejas em que este historiador também não refere os primeiros vigários, e mesmo nesta igreja em época contemporânea ao Dr. Frutuoso, este não lhe fez referência ao oitavo e nono vigários.
Desta forma podemos concluir que esta igreja terá sido, no início, um templo particular, pertencente ao Contador Martim Vaz, e só mais tarde transformada em paróquia, que já estava instituída antes do ano de 1526, e que teria havido nela sacerdotes a título privado, que celebravam missa e ministravam os sacramentos à família do referido Contador e aos demais habitantes da Relva, antes da sua instituição como paróquia.
Rezam as crónicas que outrora se produziu nesta freguesia muita cevada e que um tal Jorge Afonso deixou um grande monte de cevada na eira por não possuir granel para o guardar. Passados dias, a cevada por cima do monte estava toda verde encontrando os homens um grande buraco nele. Vigiando por esse buraco viram então um porco montês sair por ele e logo atrás muitos outros. Tinha então acontecido que os porcos que andavam pelos montes, vieram até ali, ao cheiro do cereal, encontrando cevada muito sã debaixo do monte por cima do qual a própria cevada tinha grelado e enraízado, formando uma crosta.
Assim acontecia no tempo das abundâncias, no tempo em que um indivíduo chamado João Afonso, trazia em volta da sua casa tantas galinhas que quando elas se espantavam, mais pareciam bandos de estorninhos e que ponham por dia centenas de ovos. As terras desta freguesia encontravam-se por este tempo tão povoadas de codornizes que quem as caçava as vendia à razão de meio vintém por cada quarenta.
Séculos XVII e XVIII
No ano de 1643, as coisas já tinham subido bastante e a importância do lugar aumentado consideravelmente porque já a freguesia disponha de um vigário - Francisco Fernandes Mesquita que recebia por ano 7 moios e meio de trigo e 12$666 reis em dinheiro; um cura, que ganhava 4 moios e meio de trigo e 7$330 reis em dinheiro; e de tesoureiro com vencimento de um moio de trigo e 6$000 reis em dinheiro. Em 1690, a população da freguesia da relva aparece com 870 pessoas agrupadas em 342 casas. Isto é em cem anos a população deste lugar tinha aumentado para o dobro e o número de casas para cerca do triplo.
Em 1723, segundo Chaves e Melo, em “Margarita Animata”, refere-se a existência de cerca de mil e seiscentas pessoas em Relva. Um aumento extraordinário, em poucos anos, o que significa que o desenvolvimento da freguesia a partir do século XVIII foi imparável.
Séculos XIX e XX
No ano de 1800 tinha esta freguesia 1.781 habitantes. Nesse tempo os Arrifes não eram freguesia e a Saúde formava um curato dependente da Relva. Seis anos depois, em 1806, tinha esta freguesia 2.018 habitantes, verificando-se nesse ano 66 nascimentos, 64 mortos, e 6 casamentos.
Em 1813, o número de habitantes era de 1.902.
Em 1820, a Relva apresentava uma população de 2.086 habitantes, tendo havido então 99 nascimentos, 46 mortos, e 13 casamentos.
O aumento populacional dos anos anteriores estancou, iniciando o movimento inverso, depois de 1839. Nesse ano, a exemplo do que acontecera três anos antes e do que viria a acontecer em 1852, procedia-se a uma grande reorganização administrativa do País. Muitos concelhos (mais de quatrocentos) foram extintos, muitos outros foram criados. Em Relva, houve também alterações importantes. O lugar de Arrifes, por exemplo, saiu desta freguesia e constituiu povoação independente. “Levou” consigo o lugar de Saúde, já então muito populoso, facto que provocou uma descida populacional importante. Relva ficou então com cerca de mil e duzentas pessoas.
De 1800 a 1813 verifica-se em São Miguel uma grande saída de emigrantes para o Brasil, nada menos do que 6.828 pessoas. Só da Relva saíram 230 pessoas.
Em 1813, a Relva produziu 18 moios de trigo, 630 moios de milho, 1 moio e 20 alqueires de cevada, 1 moio e 19 alqueires de fava, 2 moios e 12 alqueires de feijão, e 8 pipas de vinho.
Havia então neste lugar, além de duas companhias de ordenança, 3 funcionários chamados de corpo civil, 3 eclesiásticos, 39 lavradores, 494 trabalhadores, 1 mendigo, e 39 artífices. Estes artífices estavam assim distribuídos: 7 carpinteiros, 1 serrador, 1 cabouqueiro, 11 pedreiros, 12 sapateiros e 7 alfaiates
As roupas de então eram feitas de estamanha, com as quais se trajavam e andavam pelos campos, as quinzenas com que era costume casar, as roupas dos noivos todas às listras e debruadas de cadarços que, ao lado do capote e capelo em que escondia a noiva, iam à igreja brilhando como uma maravilha. Segundo uma postura camarária desse tempo o alfaiate só podia levar 400 reis pelo feitio de um capote de pano ou de baeta, forrado. Por um capote de camelão só podia levar 300 reis. Os senhores padres, porém, estavam piores, pois o feitio de uma batina andava por 4.000 reis.
Nesse tempo não havia luz de petróleo e as candeias ardiam ou com óleo tirado da baga do louro que iam apanhar à serra ou com um mal cheiroso azeite de peixe, que então se vendia a 300 reis a canada.
No decorrer do século XX, o número de habitantes da freguesia continuou a descer. Em 1970, eram 2.032 pessoas e, em 1980, 1.957.
Actualidade
Actualmente, assiste-se a uma recuperação populacional importante, pois vivem aqui cerca de 3.000 pessoas, e continua a verificar-se um acentuado crescimento populacional e económico.
A Relva de hoje, conta com um apreciável número de forças vivas, quase todas com sólida composição, como sejam, além da Junta de Freguesia, a Filarmónica Nossa Senhora das Neves, o Grupo Folclórico de Cantares e Balhados da Relva, a Casa do Povo, o Centro Social Paroquial, o Conselho Pastoral, o Grupo de Violas, etc…
A Filarmónica, por exemplo, que no primeiro dia deste ano comemorou o seu 131º aniversário, está em franca ascensão. Está sólida e composta por mais de 50 elementos, quase todos da Relva e na sua grande maioria são jovens, o que significa que temos uma banda com futuro. Têm feito algumas deslocações (ao Continente português, à ilha Terceira e à ilha de Santa Maria), e tem dignificado o nome da nossa freguesia. Com o Grupo Folclórico, o mesmo se passa. Tem também já 20 anos de existência e tem levado o nome da Relva a diversas partes do país e do estrangeiro.
Além disso, a Relva é dotada de algumas pequenas unidades comerciais e industriais, tais como Salsicharia, Carpintaria, Restaurantes ("O Gilberto", etc..), Pastelaria, Cabeleireiras, Padaria, Minimercados, muitas delas apenas de caris familiar, mas que se têm vindo a afirmar localmente, valorizando a nossa freguesia.
Nesta mesma freguesia existe um lugar dominado de Rocha da Relva.
Neste sossegado lugar, junto do mar, onde ainda é possível acordar com o cantar dos pássaros, existem algumas dezenas de casas de veraneio, onde as pessoas geralmente vão passar alguns dias. É também neste local produzido algum "Vinho de Cheiro", pois a localização deste é propício a esta produção, embora geralmente só para consumo próprio.
Toponímia
Primitivamente, o lugar da Relva desenvolveu-se de preferência para a banda ocidental ou seja para os lados onde a igreja se ergueu, se bem que, por exemplo, o lugar da Corujeira e Rua da Guiné nos queiram significar antiguidade.
Corujeira porquê? Não se sabe. Simplesmente o que se pode adiantar é que o termo corujeira significa no Português antigo povoação pobre, esconderijo. Donde se conclui, que enquanto a freguesia se desenvolvia para os lados da igreja, mais para baixo, na Rua de Baixo, perto da Grotinha e em ligação com um atalho que iria dar a Santa Clara, uma espécie de bairro, de gente mais pobre, uma "corujeira", afinal se formava tímido e humilde. Quanto ao topónimo Rua da Guiné, igualmente pouco se pode adiantar. Porque algum homem da Guiné ou chamado Guiné ali viveu? Porque nesse sítio havia muitas galinhas da Guiné? Não se sabe. O caso é mesmo difícil de decifrar porque em Ponta Delgada pelos sítios onde existia a Ermida do Corpo Santo houve igualmente um Bêco chamado Guiné cuja origem ainda não foi possível descobrir. Com este nome, apenas se regista a nordeste de Vila Franca do Campo um Pico de Guiné assim chamado por nele haver grande abundância de galinhas da Guiné (segundo o Cronista Fructuoso). Outros topónimos curiosos ainda se encontram aqui, como a Rua do Sabão (por aí haver uma saboaria?) e a Rua do Mulato, decerto por nela ter residido um mestiço.
Os nomes vulgares de Rua de Cima e Rua de Baixo provêm da sua situação topográfica, assim como a designação de Rua Nova deriva do facto dela ser realmente muito mais nova que as outras e ter sido aberta no tempo que a freguesia mostrou tendência para se alargar para a banda do oriente ligando por baixo o grosso do lugar como a chamada Pia da Relva (porque ali havia uma pia de lavar ou de simples água para beber?).
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