Cantanhede, capital concelhia, cuja estratégica implantação a faz ocupar uma posição central, bem pelo interior do território a que preside.
De assinalável extensão, deterá, logo a seguir à Tocha, o segundo mais amplo termo de freguesia, orçado em 4.554 hectares. Cantanhede lidera de longe em termos populacionais , sobre todo o restante conjunto das suas congéneres, tendo ultrapassado já a fasquia dos sete milhares de cidadãos residentes (7.066).
Cantanhede é geralmente considerada a capital de sub-região da Gândara, pese embora o facto de se encontrar numa zona de transição para a vizinha Bairrada, sub-região que deterá já boa parte das características geográficas, de ordem física e humana. Para além da povoação principal, recentemente eleita à categoria de cidade, acham-se ainda abrangidos no aro desta freguesia de Cantanhede, os lugares de Franciscas, Lemede, Lírios, Póvoa da Lomba, Tarelhos e Varziela.
Toponímia
A micro-toponímia desta freguesia inclui numerosas outras sugestões de muito plausível interesse arqueológico, conforme se deverá inferir de uma listagem de quase duzentos exemplos, publicada por João Reigota. Têm acordado os etimologistas em atribuir ao topónimo Cantanhede uma remota origem, em alegado radical pré-romano "cant " ligado a termos que aludirão à suposta existência de grandes pedras (eventualmente as próprias e abundantes pedreiras de calcário locais, segundo pretendem certos autores).
Arqueologia
Tudo quanto será possível apontar, em termos de indícios e vestígios arqueológicos respeitantes às mais recuadas origens do povoamento local, permanece por ora algo vago e fragmentário, em virtude de se não haver procedido ainda a quaisquer trabalhos sistemáticos de excavações, nos diversos pontos de cujo potencial arqueológico se suspeitará. Assim segundo Carlos Cruz (citado por João Reigota), no sítio da Fonte de Lemede ocorrerão "vestígios romanos e neolíticos" - ou seja concretamente "fragmentos cerâmicos e um machado de pedra polida" respectivamente -, enquanto nas imediações do cemitério, sito na extremidade setentrional do arco citadino de Cantanhede, se haverão revelado os achados, já pelo último quartel do século XIX, de outros exemplares de machados de pedra polida, de tradição neolítica.
Origens
Muito se tem conjecturado - e efabulado até - sobre as supostas origens de um povoamento local, que alguns pretendem remontar a épocas ancestrais, anteriores ainda à dominação romana. A arqueologia não se tendo mostrado relevante e proveitosa, em termos de asserções mais concludentes, tem assim conhecido substituição numa nebulosa e vaga tradição, de ténue suporte toponímico e pouco mais. Atente-se, a titulo de exemplo, neste trecho assinado por Nelson Correia Borges:
"Se o nome recorda celtas e romanos, fazendo supor que já nesses tempos aí havia uma povoação, a primeira referência histórica aparece apenas em 1087, no testamento do célebre conde D. Sesnando, que teria mandado fortificar e povoar a vila, por volta de 1080. Isto pressupõe igualmente a sua ocupação pelos árabes, até 1064, ano em que Coimbra caíu definitivamente na mão dos cristãos."
Mas o desfiar da pouco sustentada tradição historiográfica não se fica por aqui, já que, à míngua de documentação comprovativa, perorará a mesma fonte:
"O rei D. Sancho I continuou esta política, fazendo juz ao seu cognome de Povoador. A ele se atribui a criação de numerosas póvoas na região. O primeiro foral de Cantanhede, a crer no que se tem dito, teria sido outorgado, porém, por D. Afonso II, mas nada há que o comprove. De positivo, apenas se conhece o Manuelino de 1514."
Século XIV em diante
Uma outra tradição, esta com suporte em um passo da obra do bem conhecido cronista Fernão Lopes, pretenderá haver sido em Cantanhede e muito precisamente em 1360, que o não menos famoso rei D. Pedro, o Justiceiro, teria declarado pública e solenemente perante o povo e os grandes do reino, ser sua legítima esposa a malograda e bela Inês de Castro, ordenando que ficasse lavrado por escrito o acto, perante um tabelião para o efeito designado. Em boa verdade se deverá dizer que, em Cantanhede, a verdadeira história como povoação de monta, parece ter começado a delinear-se no início de quinhentos ou, quando muito, pelos derradeiros tempos da centúria antecedente. Assim o dizem os mais remotos exemplares de arquitectura religiosa, os quais redundarão, em termos patrimoniais, no que de mais significativo e monumental esta terra foi produzindo.
Património
Como exemplo de interesse maior teremos aqui, para além da igreja paroquial São Pedro (classificada imóvel de interesse público desde 1957), a pequena mas interessante capela da Varziela (instituída em 1530 pelo conde D. Jorge de Menezes e classificada monumento nacional desde 1910), a igreja da Misericórdia (templo que foi do antigo convento de Nossa Senhora da Conceição, mandado construir pelo 1º marquês de Marialva em 1675) e ainda as capelas de São Mateus, São João Baptista e São Jorge, todas elas no aro desta freguesia de Cantanhede.
Os Menezes, condes de Cantanhede e mais tarde marqueses, edificaram igualmente por estes seus domínios senhoriais, uma opulenta estrutura residencial solarenga, conhecida por Paço dos Marqueses de Marialva. O belo e harmonioso edifício, cuja primitiva fábrica remontará a 1553, foi ao longo dos tempos remodelado e ampliado em sucessivas campanhas de obras. Na sua planta composta e articulada em L foi integrado um esguio e elevado torreão de relógio , isto já no decorrer do século XX e em solução arquitectónica passível de pouco abonatória crítica. A antiga estrutura habitacional apalaçada serve actualmente de Paços do concelho de Cantanhede. No pátio do respectivo imóvel se atestarão as mais recuadas sobrevivências da primitiva fábrica quinhentista.
"A galeria inferior estende-se por 7 tramos abobadados de nervuras sobre arcos cruzeiros oblongos, prolongados por mais 2, sob os primeiros lanços da escada. As mísulas e as chaves ostentam ornamentação diversa, encontrando-se numa destas a seguinte inscrição: ESTA OBRA / SE F(E)Z NO / ANO DE 1553. A fachada oposta, muito idêntica a esta, é uma reconstrução com critério e unidade."1
Outro antigo edifício de solarenga traça provincial é o da antiga casa do Capitão-Mor, hoje convertido em Casa Municipal da Cultura. Acusando uma planta longitudinal alongada e composta, envolvendo uma volumetria de dois pisos, a estrutura apresenta-se armoriada num dos cunhais por esplêndida pedra de armas. O edifício terá sido erguido pelos inícios do século XVIII e mandado posteriormente reformar, para sua residência pelo capitão-mor João Henriques de Castro, isto pelos finais da mesma centúria.
Merecendo ainda uma palavra, no âmbito desta vertente do património edificado, estará a chamada casa dos Bogalhos, sita no largo Pedro Teixeira. Embora um tanto mal conservada e adulterada na sua estrutura interior por sucessivas intervenções posteriores, a edificação preservará ainda algumas das características arquitectónicas seiscentistas primitivas, como seja a sua escadaria de alpendre típica da região Bairradina. (Francisco Jesus)
Bibliografia
- Alguns trechos extraídos do livro "Cantanhede honrando o passado, rumo ao futuro…"
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