Odemira é uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Beja, região Alentejo e sub-região Alentejo Litoral.
História
Dotada de uma localização estratégica entre a serra da Cabeça Gorda e a serra dos Pinheiros, a 20 km da costa, Odemira serviu-se do rio Mira para acentuar essa situação favorável, já que a via era natural ponto de passagem e penetração para o Alentejo interior. Este facto fez dela um ponto estratégico cobiçado pelos vários povos que aqui viveram.
O povoamento do concelho é bastante remoto, como o provam os numerosos vestígios de culturas anteriores à romanização e os testemunhos das culturas posteriores. Tendo estado, naturalmente, sob ocupação romana, foi porém com os mouros que foi construído, provavelmente no local de "oppidum" romano, um castelo, chamando à povoação "Wadi Emir". Após ter sido conquistado aos mouros, por D. Afonso Henriques, em 1166, o castelo terá sido doado ao Bispo do Porto em 1265 e reconstruído. Em 1319, foi reedificado com uma nova cerca por ordem de D. Dinis; a vila (e seu termo) foi doada ao almirante Micer Manuel Peçanha e seus descendentes. Os restos da muralha articulam-se de forma interessante com alguns edifícios, definindo a expansão urbanística da vila.
A vila recebeu carta de foral de D. Afonso III, em 1256, e, semelhante ao que aconteceu em Beja, D. Manuel renovou-a em 1510. Foram condes de Odemira D. Sancho de Noronha e D. Mécia de Sousa, no reinado de D. Duarte. Nesta casa se conservou até ao reinado de D. João IV, quando foi doada a D. Francisco de Faro. Mais tarde, D. Pedro II doou-a ao primeiro Duque de Cadaval. No século XIX, o regime liberal reestrutura o concelho, tornando-o um dos maiores concelhos do país. O concelho abrange uma área extensa ao longo da costa e no seu interior uma vasta área de serras e campos com uma fauna diversa. O estuário do rio Mira é rico em avifauna, com destaque para as garças e galinholas de água. Junto à foz do Mira os pescadores realizam aqui a sua actividade piscatória.
Este concelho de grandes dimensões apresenta uma variedade geográfica e panorâmica, com múltiplas culturas agrícolas e espaços florestais. Economicamente, Odemira sustenta-se sobretudo à custa da agricultura e da pecuária – cereais, legumes, gado, madeira, cortiça, fruta e aguardente de medronho – mas também possui indústrias de concentrado de tomate e cerâmica, bem como uma actividade piscatória considerável.
Personagens históricos de Odemira
D. Sancho de Noronha, primeiro conde de Odemira
Adiantado do reino do Algarve, do conselho do rei D. Afonso V, governador e capitão general em Ceuta. Nasceu em 1390 e era filho de D. Afonso, conde de Gijón e Noronha, filho de Henrique II de Castela. A sua mãe era D. Isabel, filha bastarda do rei D. Fernando de Portugal.
Foi feito conde de Odemira, por mercê de D. Afonso V, por carta régia, passada em Évora a 9 de Outubro de 1446. Como fora este fidalgo um dos que mais haviam contribuído para a perda do infante D. Pedro, duque de Coimbra, foi também ele um dos que tiveram parte nos despojos. D. Afonso V deu-lhe a vila de Portalegre e seu castelo, que pertencera a seu tio, o referido D. Pedro, por mercê feita em Lisboa a 21 de Novembro de 1448, mas os portalegrenses, dando um nobre exemplo de lealdade e de energia, recusaram positivamente passar para o seu novo senhor, e firmando-se num dos privilégios do seu foral, conseguiram repelir o jugo. O conde de Odemira foi então nomeado governador e capitão general de Ceuta. Em 1452 estava naquela praça, quando o infante D. Fernando saiu de Évora, e passando ao Algarve embarcou para África. O conde de Odemira foi também senhor de Vimieiro, Aveiro, Mortágua e de outras terras, alcaide-mor de Elvas, de Estremoz, e comendador-mor da ordem de São Tiago. Casou com D. Mécia de Sousa, senhora de Mortágua, filha herdeira de Gonçalo Eanes de Sousa. Esta senhora era descendente da antiquíssima casa que lhe deu o apelido, que acabando-se a varonia, veio a conseguir a varonia real portuguesa, deduzindo-se do rei D. Afonso III, de quem era bisneto Martim Afonso de Sousa, terceiro conde do seu nome e segundo senhor de Mortágua, pai de Gonçalo Eanes de Sousa, que foi o pai da condessa D. Mécia.
D. Maria de Noronha, segunda condessa de Odemira
Nasceu por volta de 1440 e faleceu a 20 de Maio de 1523. Filha do primeiro conde de Odemira, D. Sancho de Noronha, e do sua mulher D. Mécia de Sousa. Casou com o conde de Faro, D. Afonso, e deste consórcio houve, entre outros filhos, D. Sancho de Noronha, que foi o terceiro conde de Odemira. D. Afonso V fez mercês à condessa D. Maria de Noronha de 1.700 coroas de tença, por carta feita em Estremoz a 5 de Janeiro de 1476.
D. Sancho de Noronha, terceiro conde de Odemira
Nasceu por volta de 1470 e era filho da segunda condessa de Odemira D. Maria de Noronha, filha e herdeira do primieor conde do mesmo título, D. Sancho de Noronha, e de seu marido, o conde de Faro, D. Afonso. Acompanhou seu pai para Castela, ao qual, em memória de seu avô, lhe foi dado o mesmo nome e apelido, como sucessor de sua casa.
Quando em 1496 o rei D. Manuel restituiu ao reino o duque de Bragança D. Jaime, seu primo, voltou a Portugal, e nesse ano D. Manuel alie deu o título de conde de Odemira, dando-lhe com a grandeza a prerrogativa de parente, com o tratamento de sobrinho, como se vê, entre outros documentos originais, na carta de confirmação da vila de Vimieiro, feita pelo mesmo soberano, em Évora, a 16 de Junho de 1509. O conde de Odemira foi alcaide-mor de Estremoz, senhor dos Eixos, Oies, Paus e Vilarinho, e de todos os mais estados, porque nos de Sancho, seu avô, havia sucedido sua mãe, a condessa D. Maria de Noronha.
Casou duas vezes: a primeira cem D. Francisca da Silva, filha de Diogo Gil Moniz, vedor da fazenda do infante D. Fernando, e de D. Leonor da Silva. Casou segunda vez com D. Ângela Fabra, que depois foi camareira-mor da imperatriz D. Isabel, e aia das infantas, filha de Gaspar Fabra, senhor da parte de Barigadú, que consta de muitas terras do reino da Sardenha, alcaide-mor de Almança, embaixador do rei católico em Portugal, e de D. Isabel de Centelhas. Faleceu em 1521.
D. Sancho de Noronha quarto conde de Odemira
Nasceu por volta de 1515. Senhor de Odemira, de Mortágua, Penacova, das terras de Riba de Vouga, e dos julgados de Eixos, Oies, Paus, e Vilarinho, alcaide-mor de Estremoz e de Alvor. Era filho de D. Afonso de Noronha, que foi herdeiro da casa de Odemira, sendo o primeiro filho do terceiro conde deste título, D. Sancho de Noronha, e de sua primeira mulher D. Francisca da Silva.
Casou com D. Maria de Ataíde, filha herdeira de Nuno Fernandes da Silva, senhor de Penacova, alcaide-mor de Alvor, governador e capitão da praça de Safim. Por morte de sua segunda avó, D. Maria de Noronha, que sobreviveu a seu filho, o 3.º conde e avô de D. Sancho, sucedeu o quarto conde de Odemira nos estados que seus avós possuíam, e que tinham sido do conde de Faro, e nos de sua mãe, D. Maria de Ataíde, o que lho constituiu uma importantíssima casa, que conservou com grande autoridade e estimação dos reis, a quem serviu, pela sua representação. D. João III lha confirmou em 1556.
Foi mordomo-mor da rainha D. Catarina, mulher deste monarca, e faleceu em 1573. Casou com D. Margarida de Vilhena, filha de D. João da Silva, 2.º conde de Portalegre, e de D. Maria de Menezes, filha de D. Álvaro, e neta de D. Fernando I, duque de Bragança. Deste matrimónio houve D. Afonso de Noronha, que foi o quinto conde Odemira.
D. Afonso de Noronha, quinto conde de Odemira
Nasceu por volta de 1535. Senhor de Odemira, Mortágua, Penacova, alcaide-mor de Estremoz. Era filho do quarto conde de Odemira, D. Sancho de Noronha, e de sua mulher, a condessa D. Margarida de Vilhena. Acompanhou D. Sebastião à infausta expedição de África e morreu na batalha de Alcácer Quibir, em 4 de Agosto de 1578.
Casou três vezes. A primeira com D. Joana de Vilhena, filha de Manuel Teles de Meneses, senhor de Unhão, Cepães, Gestaçô, Meinedo, etc., comendador de Ourique na ordem de S. Tiago, e de D. Margarida de Vilhena, filha do D. Fernando de Castro, capitão de Évora e alcaide-mor de Setúbal. Casou a segunda vez com D. Joana de Gusmão, filha de D. Pedro de Meneses, governador de Ceuta, e de D. Constança de Gusmão, dama e depois camareira-mor da infanta D. Maria, filha de Francisco de Gusmão, mordomo-mor, da mesma infanta. De nenhum destes matrimónios houve descendência. O terceiro casamento foi com D. Violante de Castro, que sobreviveu muitos anos a seu marido, e faleceu a 18 de Junho de 1616. Em atenção à sua terceira mulher, o rei D. Sebastião confirmou em D. Afonso de Noronha o titulo de quinto conde de Odemira. Deste consórcio houve um filho, D. Sancho de Noronha, que foi o sexto conde do mencionado titulo.
D. Francisco de Faro e Noronha, sétimo conde de Odemira
Nasceu em 1575. Senhor das vilas de Penacova, Mortágua, alcaide-mor de Alvor, senhor do Paul de Mina, em que sucedeu por nomeação de seu parente Nuno Álvares Pereira de Noronha, do qual foi herdeiro; comendador das comendas de São Tiago de Sardoal, Santo André de Morais, Santa Maria de Quintela, São Salvador de Joane, Santa Maria de Marmeleiro, Santo Isidoro de Eixo, na ordem do Cristo, do conselho de Estado dos reis D. João IV e de D. Afonso VI, de quem foi aio e vedor da fazenda; presidente do conselho ultramarino, ministro da Junta do Governo na regência da rainha D. Luísa de Gusmão, etc.
Era filho dos primieiros condes de Faro, D. Estêvão de Faro e D. Guiomar de Castro. Sucedeu na casa por morte de sua sobrinha, a condessa D. Juliana de Faro. Seguiu a carreira das armas e serviu nas armadas portuguesas e castelhanas. Em 1625 assistiu à restauração da Baía. Aderiu plenamente à revolução do dia primeiro de Dezembro de 1640, e em 1646, não tendo o sexto conde do Odemira, seu parente, deixado descendentes directos, foi ele agraciado, por D. João IV, com esse título, dando-lhe toda aquela grande casa que tinha vagado para a coroa, de juro e herdado, conforme a lei mental.
O parentesco que tinha com a Casa Real reinante, como descendente por varonia da Casa de Bragança, fez com que o monarca o honrasse com o tratamento de sobrinho, e porque era maior o assentamento, que gozavam os grandes quando tinham esta prerrogativa, tirou D. Francisco do Paro carta de assentamento de conde parente, que lho foi passada a 9 de Julho de 1616. Nomeado conselheiro de Estado e presidente do conselho, foi o ministro influente, predilecto de D. João IV, e verdadeiramente o chefe do partido a que chamaram, na regência de D. Luísa de Gusmão, o partido velho.
Efectivamente, quando o monarca faleceu, o conde de Odemira e o seu partido acharam-se em frente dum outro partido novo, capitaneado principalmente pelo conde de Cantanhede, depois marquês de Marialva. D. Luísa de Gusmão, ao princípio, conservou as tradições da política de seu marido, e o conde de Odemira tomou posse do lugar importantíssimo e muito espinhoso de aio do jovem rei D. Afonso VI, e do infante D. Pedro. Mas o partido novo, achando-se na frente duma menoridade, levantou a cabeça e preparou-se para a luta. A rainha, esperando afastá-lo, formou uma junta de governo, a que se poderia chamar junta de conciliação, em que entravam os dois chefes do partido, condes de Odemira e de Cantanhede, Pedro Fernandes Monteiro e o marquês de Niza. Mas o partido novo triunfou, e o conde de Odemira, já velho, fraco e doente, não pôde lutar, e limitou-se ao exercício do seu cargo de aio do jovem rei, que desempenhou desastrosamente. Sabe-se, muito bem, quanto deplorável foi a educação de Afonso VI, a sua falta absoluta de instrução, as más companhias a que o deixaram entregar-se, e as suas inacreditáveis correrias. O conde não conseguiu nunca ter a mínima influencia no espírito do seu pupilo.
No seu próprio palácio erigiu um hospício para religiosos capuchos da província da Piedade, que perpetuou em seus herdeiros. Antes de herdar a casa de seu irmão, havia casado com D. Mariana da Silveira, que faleceu a 11 de Outubro de 1648, e foi sepultada na igreja do convento da Trindade, de Lisboa. Era filha herdeira de Francisco Soares, um fidalgo a quem chamavam o Cotovia, por viver numa quinta naquele sítio, cabeça do opulento morgado. Deste consórcio nasceu D. Maria Faro, que foi a oitava condessa de Odemira, e sucedeu na casa e morgados dos seus avós maternos, e foi herdeira de seu pai. Esta senhora casou duas vezes: a primeira com D. João Forjaz Pereira Pimentel, sétimo conde da Feira, de quem não teve sucessão; a segunda vez com D. Nuno Álvares Pereira de Melo, primeiro duque do Cadaval. Faleceu em 15 de Março de 1661.
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