História de Raimonda

História de Raimonda
Raimonda

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Raimonda é uma freguesia portuguesa do concelho de Paços de Ferreira.

Origens

Zona de montanha e floresta, o território que constitui actualmente a freguesia de São Pedro de Raimonda reunia as condições propícias para os primeiros povos que se fixaram na região. Um clima favorável, caracterizado por temperaturas amenas e chuvas abundantes. Um solo muito fértil, não pela sua estrutura geológica mas antes por acção de um clima muito rico em água. Uma vegetação densa, resultante dos factores anteriores. Condições que estimularam, sem dúvida, a fixação dos mais diversos povos e culturas, desde os tempos mais remotos, em todo o actual território de Portugal.

Mergulha na noite dos tempos a presença do homem na parte ocidental da Península Ibérica, porque os vestígios arqueológicos para essa época são diminutos e os estudos realizados até agora estão longe de responder a tantas dúvidas. O que se sabe, e é por aí que teremos de começar, é que os primeiros vestígios de um povoamento sedentário, baseado numa economia agrícola, no concelho de Paços de Ferreira, remontam ao quarto milénio antes de Cristo. A chamada cultura megalítica – marcada pela prática da inumação colectiva em grandes monumentos construídos para o efeito deixou algumas marcas, que nos permitem conhecer um pouco do modo de vida destas populações neolíticas. Viviam da agricultura e da domesticação de animais, habitavam em pequenas e toscas casas, construídas em argila ou madeira, e dedicavam-se a cerimónias tribais ligadas á magia astral ou ao culto da fertilidade. Construíam dólmens ou antas, monumentos constituídos por uma câmara e um corredor de acesso, coberto por lages, nos quais sepultavam os seus mortos.

Não chegaram aos nossos dias, infelizmente, muitos vestígios destes monumentos megalíticos no concelho de Paços de Ferreira. Por acção do tempo, ou por acção do homem, o certo é que apenas em Lamoso é possível, actualmente, encontrar o resto de um dólmen, construído há mais de três mil anos por anónimos antepassados nossos.

A cultura castreja

Entretanto, ligada à civilização do ferro, desde o século X antes de Cristo. Que se fora desenvolvendo no território da Península Ibérica uma civilização castreja, que seria como que um vínculo entre os povoadores do Neolítico e os Lusitanos. Os castros eram povoações fortificadas, defendidas por duas ou três linhas de muralhas, que se ergueram no cimo dos montes, nas quais se fixavam tribos, em busca de segurança e de defesa contra grupos rivais. No interior das muralhas, eram construídas casas de pedra, redondas, rectangulares ou oblongas, cobertas de colmo ou de ramos de árvores. Estavam assentes na rocha ao nível do solo e não ultrapassavam os cinco metros de diâmetro. Assim se manteve, durante vários séculos, uma civilização pobre e em muitos aspectos arcaica, que se dedicava apenas à agricultura e à pastorícia.

No espaço que é actualmente o concelho de Paços de Ferreira, foi encontrado um sem-número de vestígios da cultura castreja, que provam a importância da região na fixação da população e na sua organização social. Em Sanfins, naturalmente, mas também um pouco por todo o concelho. Em Raimonda, foi identificado o Castro de Gonçalo, que se prolonga para a freguesia de LustosaLousada. À imagem dos outros castros encontrados na região, possuía três linhas de muralhas, que estavam separadas várias dezenas de metros umas das outras, para uma maior segurança da população. Dentro da povoação, uma pequena comunidade pobre e rudimentar na sua organização política levava como podia a sua vida, praticando uma agricultura colectiva de mera subsistência. Foram encontrados, dentro do castro, alguns fragmentos de cerâmica de pasta grosseira, certamente pertencentes a utensílios de uso doméstico, fabricados na própria povoação.

Foi nesta época, por certo, que Raimonda conheceu a sua primeira forma de unidade política. Com efeito, todos os núcleos populacionais castrejos desta zona parecem ter estado coordenados entre si, sob uma mesma organização política e administrativa, dominada sem dúvida por Sanfins. Aliás, a influência de Sanfins, ou de algum chefe local aí radicado, estendia-se de Raimonda a Ferreira, de Freamunde a Penamaior.

Da montanha para a planície

No ano de 219 antes de Cristo., desembarcaram na Península Ibérica as primeiras tropas de Roma, que rapidamente substituíram Cartago no domínio desse espaço. Apenas a Lusitânia resistiu durante algum tempo, mas também acabou por sucumbir. Na área de Paços de Ferreira, a romanização provocou alterações profundas a nível da organização social e económica das populações. A antiga organização social indígena, que se baseava no autoconsumo, foi substituída por uma organização comercial centralizada. Para tal, foram instalados novos povoamentos a níveis mais baixos e mais próximos dos terrenos férteis de aluvião. Os castros começaram a ser abandonados, as aldeias desceram até à planície. O processo de aculturação foi mais vasto e está bem visível, também, na noção de posse e de propriedade que é introduzida, na instalação das novas técnicas agrícolas e mesmo na construção das habitações.

Raimonda viveu tudo isto. Com a romanização, desceu à planície e aí se instalou, transformando completamente o seu modo de vida. Ainda hoje se podem encontrar vestígios da passagem dos romanos pelo actual território da freguesia. A maior parte desses vestígios foi encontrada na Necrópole do reguengo, na casa com o mesmo nome. O espólio encontrado um pequeno conjunto de cerâmica comum parece sugerir que existia no local uma habitat de expressão reduzida, tipo casal, ligado á exploração agrícola. O trabalho processava-se em regime de escravidão, com alguns juridicamente livres, mas certamente com estatuto e condições muito próximas da escravatura.

A Chegada do Cristianismo

Esta situação manteve-se até ao século V. Porém, a situação económica do império romano degradava-se dia após dia, e quem sofria mais era a classe trabalhadora, os colonos semi-livres, que se encontravam numa situação praticamente de escravidão. Não foi de espantar, pois, que à invasão dos povos bárbaros, no ano de 409, as populações não tivessem oferecido resistência. Com a chegada do Cristianismo, as necrópoles, os templos e a própria paisagem são santificadas e subtraídos ao paganismo.

Montanhas e vales vão ser dedicados a São Pedro, como em Raimonda, São Fins, Santa Marinha ou Santa Eulália, e aí erigidas ermidas, capelas e igrejas paroquiais. A contribuição sueva e visigótica vai ser importante no esclarecimento das origens da sociedade medieval portuguesa. Os novos conquistadores, pertencentes a uma minoria nobre, vão encetar uma aliança com o poder religioso. A partir daí, os párocos vão tornar-se os chefes naturais das comunidades cristãs. A antiga vila, empresa agrícola, converte-se na freguesia ou paróquia. Apesar de a monarquia visigótica só ter durado até 711, ano em que os muçulmanos desembarcaram na Península Ibérica, estavam criadas as bases do nascimento de uma monarquia cristã estável. Tal aconteceu a partir do século X, depois de devastadoras guerras entre cristãos e muçulmanos.

Da Terra de Sousa ao Termo do Porto

São Pedro da Raimonda integrou-se, no início da época medieval, numa unidade politico-administrativa mais vasta, a chamada Terra de Sousa, que englobava uma área situada entre os vales do rio Tâmega e Ferreira, uma das vias de comunicação entre as bacias do Ave, Vizela e do Douro. A tenência da terra era exercida por representantes da família Sousa, através de delegação régia. Um facto que fortalecia a implantação regional, e que era resultado de recompensa por serviços desempenhados pelos Nobres junto do Monarca.

Embora sufragânea da Paróquia de São Tiago de Lustosa, Raimonda já é referida em 1095. nessa altura, era ainda chamada de Gondesende, mais tarde transformar-se-ia em Rosende e finalmente em São Pedro de Reymonda. Nesse documento de 1095, a Condessa Mumma de Guimarães, antes de morrer, indica aos seus filhos uma série de rendimentos que possui na Châ de Ferreira, entre os quais em Gondesende. Tudo leva a crer, segundo Manuel Vieira Dinis, que o topónimo actual teve origem numa senhora muito endinheirada que viveu em Raimonda e que, através de um “auspicioso” emprazamento, ditou o seu querer e deu o seu nome àquele lugar. É toda esta zona de implantação nobiliárquica, dominada pelo Sousa, que nas Inquirições de 1220, através de intervenção régia, aparece abrangida pela designação de Termo de Ferreira.

O Termo de Ferreira incluía as freguesias de Raimonda, Lamoso, Codessos, Sanfins de Ferreira, Eiriz e Carvalhosa. As outras freguesias do actual concelho, a Sul integravam-se no Termo de Aguiar, que tinha o seu centro no castelo de Aguiar de Sousa. Este reordenamento administrativo, do qual resultou a fragmentação da antiga Terra de Sousa, explica-se pela política centralizadora e anti-senhorial que D. Afonso III empreendeu desde que subiu ao trono. Nas inquirições de 1258, a Coroa vai mais longe e propõe uma nova divisão em dois julgados: o Julgado de Refojos de Riba d’Ave e o Julgado de Aguiar de Sousa, que compreende todas as outras freguesias Raimonda vai ser integrada neste último julgado. Cada um destes julgados estaria sob a jurisdição de um juíz, que nele representaria os interesses do Rei, quando na antiga Terra de Sousa e mais tarde no Termo de Ferreira essa jurisdição estava nas mãos da Nobreza.

A tendência, como se vê, era para uma crescente centralização, e os dois julgados criados em 1258 acabaram por ser integrados no chamado Termo do Porto e na sua comarca e provedoria, em 1385, como recompensa pelo auxílio que os homens-bons da cidade deram a D. João I durante a crise que antecedeu a sua subida ao trono.

O “Brasileiro” em Raimonda

Durante a Época Moderna, por volta do século XVII, deu-se um fenómeno importante em Raimonda, que se estendeu um pouco para o resto do concelho: a emigração para o Brasil. Fenómeno que foi fundamental para a economia da região, principalmente no momento em que as remessas dos emigrantes, e eles próprios, já enriquecidos, começaram a voltar á sua terra. As marcas do “brasileiro” e do seu regresso permanecem um pouco por toda a Freguesia. Não é por acaso que já Pinho Leal, em referência ao brasileiro”, dizia que Raimonda era a mais rica freguesia do concelho, e que, localmente, a mesma é conhecida por “terra do dinheiro”. É antes uma realidade concreta, provocada pela concentração do capital “brasileiro” na Freguesia. Um “brasileiro” que só se sentia completo quando, depois de uma vida inteira a mourejar, e a verter lágrimas, suor e sangue, voltava á sua terra para reconstruir a antiga casa paterna ou para construir prédio novo no “verde canto da aldeia”. Como dizia José Augusto Vieira, na descrição que fazia de Paços de Ferreira em “O Minho Pitoresco”.

Em Raimonda, as marcas do “brasileiro” ficaram patentes nos grandes palacetes, de cores vivas, os muros e portões de ferro com que eram vedadas as suas propriedades. A bonita Igreja Paroquial é no entanto o maior “marco” da presença e da importância do “brasileiro” no desenvolvimento económico da Freguesia. Inaugurada em 1710, a sua construção só foi possível graças ao dinheiro de um desses tais “brasileiros” tão devotos á sua terra. Que no seu acto simbolizou o amor inesquecível à terra-mãe.

Século XVIII

"Descripçam da freguesia de Sam Pedro de Reymonda e do que se procura saber pelos interrogatórios impressos mandados pelo Muyto Reverendo Douitor Provisor do Arcebispado Primaz. Esta freguesia de Sam Pedro de reymonda sita na provincia do Minho é do Arcebispado de Braga Primaz, Comarca no Secular da cidade do Porto e no ecclesiastico é da sobredita cidade de Braga e Concelho de Aguiar de Souza e termo da dita cidade do Porto e é terra del Rey, e confina pela parte do Norte com a freguezia de Sam João Baptista de Codessos(…)

Tem esta freguezia de Sam Pedro de Reymonda cento e sinco fogos: pessoas de sacramento trezentas e seis, menores sincoenta e dous. Esta freguezia esta situada em huma planicie que se chama a Cham de Ferreira, comprehende seis lugares ou aldeyias, que vem a ser o lugar dos Cazaes, o lugar de Rozende, o lugar da Igreja, o lugar do Outeiro, o lugar de Parada de Sima, o lugar de Reguengo; e a Igreja está situada no meyo da mesma freguezia no lugar chamado a Igreja e a pé della vay huma estrada para a cidade do Porto e a rezidencia do Parocho fica quazi no fim da mesma freguezia”.

Assim começava o relatório do Abade de São Pedro de Raimonda, Padre Manuel Marques, em resposta aos Inquéritos Paroquiais ordenados em 1758 pelo Rei D. José I. Nesta altura – meados do século XVIII – Raimonda, fazendo parte do termo da cidade do Porto, pertencia ao concelho de Aguiar de Sousa, que agrupava treze das actuais dezasseis freguesias que compõem o concelho de Paços de Ferreira.

Actualidade

Actualmente, a freguesia de Raimonda, tem cerca de três mil habitantes. A indústria do mobiliário movimenta grande parte da população e a rede de estradas vai crescendo em direcção à sede do concelho e ao Porto, no sentido de possibilitar o desenvolvimento de uma pequena povoação que, apesar de ser quase anónima em Portugal, já foi vedeta, ainda há bem pouco tempo, de um programa de televisão alemão. Merece bem uma visita pela excepcional riqueza paisagística, patrimonial e artística.

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