João Ginja

João Ginja
Trancoso

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Um enfarte afastou-o de vez do seu "atelier" forrado a cheiro de cola, graxa e cabedal. O último sapateiro por terras de Bandarra, já não faz sapatos. E está triste no meio da família numerosa, por ter sido forçado a abandonar as formas de que tanto gosta. «Quando deixei de trabalhar foi um desgosto», revela.

O amor à arte fá-lo emocionar-se quando fala. «Isto é uma arte velhinha!», exclama o senhor João, 60 anos, o Ginja, como é conhecido. Desde tenra idade, com a sabedoria de quem sabe o que quer da vida, enveredou pela sapataria. «Aprendi a arte de sapateiro com dez anos», na terra do mais famoso sapateiro do distrito da Guarda: o Bandarra. Mas foi pelas mãos de João Pires, um sapateiro «famoso» estabelecido na vila, que aprendeu tudo o que sabe. Com o "mestre" esteve durante quatro anos até que a arte da sapataria poucos segredos já lhe reservava. É então que aos 18 anos, João Ginja larga o mestre e estabelece-se por conta própria, abrindo a sua loja em Trancoso.

É «sapateiro por gosto e convicção», muito embora aquele tempo fosse difícil e quem não queria ser sapateiro, poucas opções mais tinha para o sustento «podia ser alfaiate ou barbeiro», conta. Mas João Ginja tinha o argumento fundamental: «Eu amava a arte e governei-me dela».

Na altura em que se estabeleceu, João Ginja lembra que havia três ou quatro sapateiros, que, como ele, se agarraram à arte. «Mas não faria diferença nenhuma se lá estivessem 50», garante, pois serviço havia sempre. Apostado na qualidade de bem servir os fregueses, João Ginja garante em tom brincalhão que o segredo do seu sucesso era o da boa aparência. «As freguesas gostavam de mim», revela a rir o sapateiro.

Mas nem sempre se ficava pelo estabelecimento, o sapateiro de Bandarra fazia entregas do trabalho pelas aldeias de Trancoso, com uma motoreta. «Ao fim do dia, já não vinha muito católico para casa!», revela. «Um copito aqui, outro ali», conta. Até porque a João Ginja nunca lhe faltaram amigos. «Muitos e bons amigos».

Da arte da sapataria, a verdadeira, a antiga, guarda muitas e boas recordações. «O mais difícil é talhar os moldes, depois corta-se o cabedal, depois tem que ser pregado à forma, tem que ser palmeado, tem que ser aviada a solaria por baixo, tem que ser ponteado e depois é a parte dos acabamentos», relata, metódico. Isto era dantes, agora, garante o sapateiro, «há máquinas para tudo». Perdeu-se o formato artesanal, a alma…

Ingrata a profissão de sapateiro, João Ginja diz que o artista «mete as mãos onde os outros trazem os pés».

Em 1969 emigra para França e fecha o estabelecimento. Em terra estranha trabalhou numa fábrica de papel e só regressa a Portugal em 1980.Novamente em Trancoso, «teve que se agarrar outra vez ao verbo», até porque, «os dois filhos gastavam-me o dinheiro todo», sustenta com uma grande convicção enquanto solta uma gargalhada bem disposta.

Mas o ano passado a boa disposição esmoreceu quando foi forçado a uma estadia no Hospital Sousa Martins, na Guarda. João Ginja diz- se «doente da "máquina"», fechou a loja em Trancoso e regressou à base, na Aldeia de Frechão a poucos quilómetros de Trancoso. Em casa mantém ainda um pequeno, mas bem apetrechado, "atelier", onde, de vez em quando, desenferruja as formas e faz uns biscates lá para casa. Ficam as saudades de uma arte que os filhos não quiseram seguir. «O meu filho achava que as miúdas assim não olhavam para ele», graceja. Mas João Ginja afirma que ele não teve esse problema. «Até casei cedo!», garante. Em Trancoso a profissão desapareceu, apenas existe um estabelecimento onde se fazem concertos rápidos, mas sapateiros não há e o último, João Ginja, aposentou-se contrariado.

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