Sem limites geográficos precisos e com limites socio-simbólicos flexíveis, aquilo que se pode considerar como o núcleo do bairro da Madragoa encontra-se inserido na freguesia de Santos-o-Velho. Numa perspectiva de enquadramento geográfico, o bairro situa-se numa encosta que se estende no sentido do rio Tejo (a Sul) e que a Norte se liga com a freguesia da Lapa.
A malha urbana do bairro apresenta características dos séculos XVII, XVIII e XIX, sendo o seu tecido edificado de origem pré-pombalina e pombalina. Tal malha urbana é em quadrícula irregular e com descontinuidades de traçado, sendo formada por um conjunto de ruas principais paralelamente posicionadas em relação ao rio Tejo. A sua malha urbana é fechada, assemelhando-se a uma concha, muito embora na envolvência do bairro existam importantes vias de circulação viária, como por exemplo: a Calçada da Estrela, Av. D. Carlos I e Av. 24 de Julho. Ressalvando ainda que nessa mesma envolvência situa-se um dos pólos de atracção da cidade ao nível do divertimento lúdico e nocturno. O terramoto de 1755 pouco alterou a malha urbana, sendo que as principais intervenções se deram nos anos seguintes com a construção de edifícios pombalinos. Até metade do século XIX registaram-se apenas algumas alterações ao nível da regularização dos edifícios, vindo a permitir a ampliação de determinados quarteirões, ainda que o traçado original das ruas se tenha mantido.

Existem referências à ocupação da área desde o período romano, visigótico e muçulmano, reportando-se, no entanto, ao século IV uma das principais referências ao sítio Madragoa referindo a construção de um templo paleocristão onde hoje se situa a Igreja de Santos-o- Velho. No entanto, somente a partir da segunda metade do século XVI é que se pode falar num desenvolvimento urbano daquela área da cidade. Na base desse desenvolvimento houve, por um lado, o estabelecimento do Paço Real de Santos por parte de D. Manuel e que tanto atraiu ordens religiosas, vindo a promover a origem de muitos conventos, como atraiu famílias nobres e burguesas, resultando no aparecimento de palácios e casas apalaçadas. Por outro lado, a constituição da Freguesia de Santos em 1566 também foi um importante marco para o desenvolvimento urbano da área.
Contudo, o vertiginoso aumento demográfico da área juntamente com o aumento da densidade construtiva, sobretudo nos pequenos quarteirões, somente se verificou em finais do século XIX, desse modo acompanhando o crescimento da população da cidade de Lisboa e que essencialmente se deu por motivos migratórios e, em grande parte, devido às migrações oriundas das regiões Centro e Norte do País. No caso da Madragoa, a proximidade com o rio, atraiu indivíduos ligados às actividades marítimas, sendo sobretudos oriundos da região de Aveiro, em específico de Murtosa e Ovar. Deu-se, então, início a uma segmentação social do bairro que logo se reflectiria na sua organização espacial: os indivíduos com mais recursos económicos instalaram-se para Norte (em direcção à Lapa) e geograficamente nas partes altas da encosta; enquanto aqueles com menos recursos se instalaram no sentido do rio Tejo, dando origem ao que mais tarde se designou como um dos bairros típicos e populares de Lisboa cujos personagens mais conhecidos ficaram sendo as varinas (vendedoras ambulantes de peixe) e os pescadores. Face ao antigo tecido edificado, o bairro encontra-se em processo de intervenção urbana, inserindo-se numa área que é foco da política de reabilitação urbana e da responsabilidade do Gabinete Técnico da Madragoa. É notória a degradação do tecido edificado, o que se reflecte na precariedade das condições de habitabilidade e na própria degradação dos elementos arquitectónicos e decorativos. Na actualidade e do ponto de vista social, existe uma grande incidência da população idosa, observando-se que do ponto de vista das actividades económicas as situações predominantes referem-se aos reformados, domésticas, operários, trabalhadores dos transportes, comerciantes locais e estudantes. É uma população de fracos recursos económicos, escolares e profissionais.
Bibliografia
- A imagem da cidade como património vivo, Comunicação apresentada no 3º ENCORE, LNEC, Lisboa, Maio de 2003
- Marluci Menezes - Doutora em Antropologia Social e Cultural, Investigadora Auxiliar, Núcleo Social (NESO), LNEC, Lisboa
- Martha Lins Tavares - Mestre em História da Arte e Restauro, Bolseira de Investigação, Núcleo Urbanismo (NAU), LNEC, Lisboa
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