Olivença (em castelhano Olivenza) é um município historicamente disputado por Portugal e Espanha. Assim, existe uma corrente de opinião que advoga que é um concelho português administrado por Espanha e uma que considera que é município da Espanha na província de Badajoz, comunidade autónoma da Extremadura. A administração e soberania espanhola de Olivença e territórios adjacentes não é reconhecida por Portugal, estando a fronteira por delimitar nessa zona. O Tratado de Alcanizes, de 1297, estabelecia Olivença como parte de Portugal. Em 1801, através do Tratado de Badajoz, denunciado em 1808 por Portugal, o território foi anexado a Espanha.
Em 1817 a Espanha reconheceu a soberania portuguesa subscrevendo o Congresso de Viena de 1815, comprometendo-se à retrocessão do território o mais prontamente possível.
Olivença está situada na margem esquerda do Rio Guadiana, distando 23 km da cidade de Elvas e 24 km de Badajoz. O território é de forma triangular, com dois dos seus vértices no rio Guadiana. O município de Olivença inclui hoje duas vilas: São Francisco e São Rafael, e quatro aldeias: Vila Real, São Domingos de Gusmão, São Bento da Contenda e São Jorge da Lor. Nossa Senhora da Assunção da Talega ou Táliga, outra povoação do antigo território de Olivença, é actualmente município. A área do concelho oliventino é de 430 km².
Freguesias
Em 1801 o concelho de Olivença era constituído pelas seguintes freguesias:
- Santa Maria do Castelo (Olivença)
- Santa Maria Madalena (Olivença)
- São Jorge da Lor
- São Domingos de Gusmão
- Nossa Senhora da Assunção da Talega ou Táliga, actualmente concelho.
A aldeia de Vila Real também situada no actual concelho de Olivença, fazia parte, na altura da ocupação, da freguesia e concelho de Juromenha, que agora integra o município de Alandroal.
História
- Ver artigo principal: História de Olivença
Inexistência de fronteira
Na delimitação da fronteira entre Portugal e Espanha faltam colocar 100 marcos, desde o Nº 801 ao Nº 900. Os dois acordos de definição fronteiriça de 1864 e 1926 deixaram por delimitar uma faixa do Alentejo coincidente com o Território de Olivença, em resultado de Portugal não reconhecer a administração espanhola sobre a região e em virtude da Espanha continuar a adiar a reentrega daquela parcela portuguesa.
O Projecto do Centro de Estudos de Arquitecturas Transfronteiriças, criado em Olivença em 1995, contém a seguinte afirmação, bem esclarecedora sobre este problema:
Desde una perspectiva diplomática, Olivenza resulta ser una materia pendiente entre ambos países, hasta el punto que la comisión interministerial encarregada de revisar los límites fronterizos entre ambos países, dejan permanentemente sobre la mesa la delimitación de los marcos fronterizos que se correspondem con el término municipal oliventino.
Para que o silêncio português não fosse entendido como reconhecimento tácito da ocupação espanhola, a diplomacia de Portugal tem lembrado à Espanha, periodicamente, os direitos portugueses.
Monumentos
A Cidadela e a Alcáçova
Iniciaremos o nosso percurso por Olivença visitando primeiro o traçado da primitiva cidadela medieval, que o Rei Dom Dinis, em inicio do século XIV, reconstruiria sobre os restos da que foi primitiva fortificação templária, sendo estas obras realizadas sob a orientação de Pedro Lourenço de Rego, segundo consta numa lápide com data de 1306.
Esta primitiva cidadela disponha de quatro portas, formada cada uma delas por dois cubos em pedra e um arco. Actualmente conservam-se em relativo bom estado duas delas, a Porta de São José ou Alconchel e a dos Anjos ou Espírito Santo. As outras duas tinham os nomes de São Sebastião e Graça. O primeiro recinto contava ao todo com catorze torres, com muros de três metros de largura e doze de altura.
Dentro desta cidadela encontrava-se o alcáçova, mandado construir pelo Rei Dom Afonso IV, em 1334, conhecido hoje popularmente como “O Castelo” e que, em 1488, seria ampliado graças à construção, por ordem de Dom João II, da Torre de Menagem.
A Torre pode ser visitada e desde ai obtemos vistas panorâmicas sobre a Vila de Olivença. É a mais alta de todas existentes na fronteira, com 37 metros de altura; possui também 17 rampas para chegar ao seu terraço, dispõe ainda de um fosso inundável que circunda o edifício militar. Dela nos deixou completa descrição gráfica Duarte d'Armas no seu famoso Livro das Fortalezas, de 1509.
Realizado este itinerário pelas diferentes construções tipicamente defensivas oliventinas e conhecidas as origens dos edifícios medievais mais emblemáticos da Vila, a cidadela, a alcáçova ou castelo, seguimos para o museu etnográfico.
O Museu Etnográfico
A comprovar a verdadeira identidade de Olivença, o seu próprio Museu Etnográfico por sinal considerado um dos melhores museus portugueses do género, documenta de forma notável os modos de vida das suas gentes, o seu folclore, as habitações tradicionais, os utensílios de trabalho.
Foi criado em 1982, e amplificado posteriormente em 1988. Encontra-se instalado na chamada Padaria do Rei, edifico do século XVIII, anexo ao castelo e de estilo Pombalino, a sua construção foi impulsionada pelo próprio Marques de Pombal. O museu contém mais de 7000 peças expostas entre os seus dois andares e podemos encontrar utensílios de uso e artefactos próprios da povoação oliventina ao longo dos séculos.
No rés-do-chão as salas acolhem e reproduzem com incrível fidelidade, utensílios e cenas das diferentes áreas de trabalhos agrícolas, um moinho de azeite, e uma mercearia. Ainda neste piso convém visitar a colecção arqueológica que abrange desde o Calcolítico até ao período de dominação árabe que precedeu a pertença desta terra a Portugal.
No último andar outras mais salas reproduzem a vida e os ofícios das populações oliventinas através dos séculos, bem como colecções de arte sacra.
A Igreja de Santa Maria do Castelo
Construída em 1584 por Andrés de Arenas sobre outra anterior originária do século XIII, esta igreja matriz foi benzida em 1627 e à sua consagração assistiu Frei Sebastião Mathos, na altura Bispo de Elvas.
De estilo clássico, o seu interior acolhe mostras de um renascimento tardio, onde três naves dividem o templo em quatro trechos cobertos com abóbadas com aresta, apoiados em belas colunas de estilo jónico.
O altar é de estilo barroco ladeado por um belíssimo conjunto de azulejos de idêntico. A capela do Evangelho possui uma espectacular alegoria da árvore genealógica da Virgem, onde são de salientar algumas figuras poli cromadas de grande tamanho, como a de Jessé.
A fachada da torre é de cilharia, dividida em três corpos, a cujos pés se destaca a frontaria da Igreja realizada com vão de meio ponto e ladeada por colunas que acabam em castiçais e um muito interessante olho-de-boi.
O Hospital ou Casa da Misericórdia
A poucos metros da Igreja de Santa Maria do Castelo e após cruzar a Porta dos Anjos, encontramos o Hospital ou casa da Misericórdia, construído a partir de 1501, cumprindo o desejo da esposa do Rei Dom João II, Dona Leonor de Viseu, fundadora em várias cidades e vilas portuguesas de benfeitorias e confrarias que atendiam os doentes pobres, sob a invocação da Virgem da misericórdia.
A sua instituição em Olivença foi encomendada a Álvaro de Frade, alcaide-mor da vila, as obras de construção deste edifício demorariam várias décadas, sendo realizadas graças à doação que, em 1511, fez o presbítero Fernando Afonso. A Igreja, iniciada em 1548, atingiria o seu estado actual em 1732.
Destaca-se a sua formosa capela do século XVIII, provavelmente uma das mais belas de Portugal, de nave única, com abóbada de berço e coro aos pés. O retábulo-mor com arquitectura em abóbada, arqueado em paredes-mestras é de estilo barroco, bem como outros dois retábulos de madeira de castanheiro, e outro poli cromado, situados em ambos os lados da nave. As paredes da nave estão cobertos de azulejaria portuguesa, com cenas do Antigo e Novo Testamento, datadas do inicio do século XVIII, alusivas às obras de misericórdia.
Palácio dos Duques do Cadaval
Pela Rua da Caridade, onde se encontra o Hospital da Misericórdia continuamos a nossa visita para conhecer agora o Palácio dos Duques de Cadaval. Este possui sem dúvida, uma das fachadas de estilo manuelino mais original e importante do início do século XVI.
Apresenta um belíssimo arco de moldura dupla com finos e delicados ornamentos. Deve-se igualmente destacar o medalhão com armas portuguesas, bem como o brasão da vila de Olivença, rematado todo este conjunto com um florão com a típica cruz de Avis.
O medalhão central é ladeado por duas esferas armilares, símbolos da expansão ultramarina de Portugal.
A Igreja de Nossa Senhora da Madalena
Junto ao Palácio dos Duques de Cadaval podemos contemplar o magnifico conjunto arquitectónico que forma a Igreja de Nossa Senhora da Madalena. Foi iniciada a sua construção em 1510, data na qual Frei Henrique de Coimbra, Bispo de Ceuta, ordenou a sua construção.
A igreja é uma obra prima do manuelino, com estruturas notáveis e uma grande importância artística na sua mobília. Três naves formam o templo, com uma belíssima abóbada de cruzaria que descansa em oito colunas de granito do mais belo estilo manuelino. Possui ainda seis retábulos, entre os quais o do altar-mor, formam um conjunto barroco inesquecível. Saliente-se ainda o seu belo órgão. O exterior surpreende com uma atraente fachada, onde se destaca uma majestosa torre quadrangular fabricada com cilhares, disposta em três corpos e nos quais se podem observar belas molduras retorcidas.
A fachada dos pés, atribuída a Nicolau Chanterenne, estilo renascentista, está ladeada por belas colunas, que não desmerecem toda a rica ornamentação do pórtico, e que está rematada com um belo e vistoso frontão e medalhões. Todos estes pormenores de raro esplendor, tanto no interior como no exterior, formam um conjunto arquitectónico de grande e admirável beleza, que merece ser apreciados por todos.
O Convento dos Franciscanos
Fundado no século XVI conserva da sua estrutura originária a capela. Ai podemos contemplar cenas da vida de São Francisco realizadas em azulejos do século XVIII, de uma só nave e que ainda permanece aberta ao culto. A fachada possui um singelo traçado classicista com três janelas coroadas em tímpano e um frontão superior com fornice e pináculos laterais.
O Convento das Clarissas
Foi construído entre 1556 e 1631. Entre 1676 e 1801 as suas instalações serviram para albergar o Hospital Militar dos Irmãos de São João de Deus. É de salientar a sua capela de uma só nave e fachada de mármore. Devido à Guerra da Restauração, as monjas abandonaram o mosteiro, destinado então para Hospital Militar, assistido pelos Irmãos Hospitalários de S. João de Deus (1641-1801). Com a ocupação, expulsos os monges, os «carabineros» e a «Guardia Civil» instalaram-se no edifício.
O Quartel de Cavalaria
A situação fronteiriça de Olivença e o sistema de defesas fortificadas, obrigava à permanência de um importante número de tropas no interior da vila, o que fez com que tivessem sido construídas diversas instalações militares destinadas a albergar regimentos de cavalaria, infantaria e artilharia.
O famoso Regimento de Dragões de Olivença, estabeleceu o seu quartel no Quartel de Cavalaria. Construído no século XVIII, junto do Baluarte do Príncipe, é um magnifico edifício de estilo neo-clássico, onde se destacam as suas numerosas janelas com cantaria de mármore e as escadas de acesso ao andar superior.
Janelas simétricas debruadas em mármore harmonizam uma extensa fachada onde predomina a horizontalidade. Diante desta construção está o Quartel de São Carlos, que era armazém do de cavalaria.
Baluartes
Estas fortificações defensivas oliventinas, tiveram o início da sua construção em 1641, no inicio da Guerra da Restauração da Independência. As obras deste complexo sistema defensivo denominado Vaubon, terminaram no fim do século XVII.
Apresentam a forma de um ovolo estrelado, com muros até 10 metros de altura, e que podem ser contemplados desde muito longe, contando com um total de nove baluartes com nomes tais como o de Santa Quitéria, a Corna, Cortadura, ou Santa Catarina, da Rainha Governadora, do Príncipe, de S. Brás, etc.
Este sistema defensivo do qual apenas ainda se conservam alguns lanços, era complementado com uma espécie de avançadas conhecidas popularmente como lunetas ou revelins.
Portas Reais
Olivença disponha de três portas na sua muralha defensiva abaluartada, construídas posteriormente ao século XVII. Destas três, felizmente uma ainda pode ser visitada, a conhecida actualmente como Porta do Calvário, que é de mármore e que se encontra orientada para a Ponte da Ajuda e para o Rio Guadiana, com um interessante passadiço abobadado e casernas que ainda se encontram no seu interior, as outras duas, as chamadas de São Francisco e a Nova, foram destruídas.
A Ponte da Ajuda
A doze quilómetros de Olivença ainda de podem contemplar as ruínas da Ponte da Ajuda, construída em inícios do século XVI, e destruída várias vezes. A Ponte da Ajuda é uma ponte fortificada, com um torreão a meio, que ligava Elvas a Olivença. É constituída por dezanove arcos ao longo de 380 metros de comprimento. Em 1709, durante a Guerra da Sucessão Espanhola (século XVIII), foi dinamitada pelo exército Castelhano, ficando assim interrompida a única ligação entre Olivença e Elvas. A partir desta altura, chegar a Olivença só foi possível passando por território Espanhol. Tal facto foi um prenúncio da ocupação de Olivença por Espanha no século XIX.
Gastronomia
Possuidora de uma gastronomia similar a todo o Alentejo, Olivença apresenta-nos o gaspacho, as migas, o cozido, sopas de cação, caldeirada de peixe, e, nos doces, pintainhas, apinhoada, bolo podre, ovos moles, jesuítas, cintos, raivinhas, cavacas, assobias e a famosa Técula Mécula, um dos mais elaborados doces conventuais portugueses
Festas
- Cavalgada dos Reis Magos (5 de Janeiro).
- Carnaval.
- Semana Santa. A herança portuguesa permanece com a celebração do Domingo de Passos e com o Santo Enterro da Irmandade da Misericórdia, a chamada "procissão das bandeiras".
- As Maias (Maio). Festa da primavera. Baila-se em redor de uma menina vestida de branco e adornada com flores silvestres.
- Festas de S. João (23 de Junho). Os moradores exibem à porta de suas casas altares alegóricos. Baila-se à volta das fogueiras.
- Santa Luzia (22 de Dezembro). No adro da Madalena, depois da missa canta-se e baila-se em redor de um grande lume.
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Comentários
É lamentável que Portugal não tenha defendido e defenda de forma consequente os seus direitos reforçadamente legitimados por um tratado que a todos deve obrigar.