Póvoa - Pampilhosa da Serra

Póvoa - Pampilhosa da Serra

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Póvoa Apresentação

Póvoa, do arcaico povoo, ou do latim popülu(m), significa pequena povoação, lugarejo, casal, pequeno amontoado de casas. A "nossa" Póvoa, é uma aldeia tipicamente serrana e dentro dos parâmetros da região. Meio escondida, meio envergonhada, no meio de encostas, enquadrada pelo alto da "Feteira" da "Lomba" e do "Cavouco", a Póvoa forma, ao longo de duas ribeiras, um triângulo irregular. De tão escondida, ela só é avistável quando se está muito perto, quase a entrar na povoação, ou então do alto do Cabeço da Urra, quando se começa a descer para a Pampilhosa da Serra. Mesmo aqui, só num ou dois locais é possível vê-la, lá bem longe, ao fundo, confundindo-se com o matizado da paisagem.

Edificada entre ribeiras, é delimitada a norte pela Fonte e a sul pelo "Pelome", local onde convergem as ribeiras e dão origem à Ribeira da Póvoa.

Ao chegar à aldeia, pela única estrada existente e que nos liga à Pampilhosa, ficamos no Largo Manuel Fernandes , antigo "Pereiro". Este largo é a actual zona nobre da povoação, onde se realiza a festa anual e onde está a Casa de Convívio, o último grande melhoramento feito. Deste local, pode-se atingir qualquer ponto da povoação, no entanto duas artérias são particularmente importantes. Uma a que, após contornar a Casa de Convívio, vira à esquerda e nos conduz ao Largo da Eira, onde está edificada a Capela
– uma bonita construção em honra de Santa Eufêmia – e logo a seguir a esta o Lavadouro público, agora recuperado e alindado. Este largo central foi outrora o local mais importante, onde as pessoas se juntavam e faziam muitas vezes o trabalho colectivo. A outra, a que virando à direita, nos leva à zona da Fonte Velha, a zona de lazer e repouso, devidamente equipada e preparada.

História da Póvoa

Povoações e lugarejos da Beira-Serra conservam todos afinidades arquitectónicas de grande sentido prático. As casas em que se defendem do frio, das intempéries e dos rigores da canícula, de um rusticismo total, são habitações simples de pedra nua (xisto ou granito), cobertas de telha vã e de canudo, de clara origem romana. Às vezes, a telha é substituída pela lousa, reminiscência de um passado bem longínquo. Moldando o xisto enegrecido, ligando-o e pespontilhando-o com mestria a barro e pequenas lascas de pedra, o artista serrano surpreende-nos com frequência pela originalidade e perfeição estética com que trabalha as paredes da sua casa e os materiais de que dispõe.

Subindo a encosta soalheira, nalgum recôncavo da montanha abrigado do vento norte, as casas, de paredes meias, alapadas e amparadas umas nas outras como favos de uma colmeia, formam um compacto aglomerado de construção sem plano definido. Separam-se por becos, quelhos e ruelas de degraus irregulares onde não entrou régua nem compasso, riscadas apenas pela necessidade e ao sabor de uma imaginação aparentemente desordenada e transbordante. Aqui e além, surpreendem-nos recantos de um ineditismo invulgar: um passadiço abraça duas casas, um pátio singular serve de acesso a várias casas.

As habitações constam de cave e rés-do-chão e só raramente sobem ao primeiro andar. Nas partes baixas, a que se acede normalmente por uma incómoda escada interior, fica a despensa, com a tulha, a salgadeira, as arcas de guardar o milho, as talhas para conservar o azeite ou, nalgumas delas, o queijo, a banha, o lombo do porco e a chouriça. Se a não construíu lá longe na fazenda, há ainda lugar para a adega, com porta para o exterior. Ali pendura o presunto e algumas résteas de alhos e cebolas. Separados por uma parede-mestra, o curral do porco, que vive com o dono debaixo do mesmo tecto, e o curral do gado, abrem para um pequeno páteo murado a que chama quinta.

Num largo mais desafogado da aldeia, ergue-se a capela, que não se sabe se viu nascer a povoação ou é consequência do seu alargamento. É ali o ponto de encontro de toda a comunidade, nos dias de festa ou quando de raro em raro o prior vem celebrar missa, já que o preceito dominical se cumpre sempre na igreja da vila ou da freguesia.

Na aldeia todos são parentes ou, pelo menos, todos se comportam como tal. Partilha-se o forno para cozer a broa, partilha-se o lagar para moer a azeitona, partilha-se o moinho para fazer a farinha e os carolos, partilha-se o alambique para destilar a aguardente de bagaço ou de medronho, pede-se a broa de emprestado, pede-se lume numa pinha ou num punhado de carqueja. E até o bode ou o carneiro.

Ninguém passa sem dar a salvação (só se for um burgesso), os serranos são gente corajosa e decidida, temente a Deus e humilde, trabalhador de sol a sol.

A Fonte Velha

“Quem da água da Fonte Velha beber, cá na terra há-de casar!” – Ditado popular

Este é o dito popular que se houve com frequência. Não sabemos, no entanto, se tem relação com alguma lenda, das mouras encantadas.
A certeza que temos é que muitos foram aqueles que, na nossa aldeia, contraíram casamento, vindos não só das redondezas, mas de vários pontos do País.
Segundo o legado das pessoas mais antigas, a referida fonte terá sido o primeiro ponto de abastecimento de água dos povoenses, ainda de chafurdo. E que melhor local se poderia ter escolhido, pois esta água fresca no Verão, é morna no Inverno?
Lembramos, com saudade, os tempos de antigamente. Como era aprazível ir à fonte! Barroca acima, com a bilha na mão, a meio davam-se umas voltas no “Tronco”. Mas se, por acaso, alguém estava a ferrar os bois, perdia-se a noção de tempo e, ali, ficávamos, parados, contemplando, estupefactos a arte de calçar os nobres animais – importantes auxiliares do trabalho serrano – quase esquecendo ao que íamos; mais acima, brincava-se nas poças, com os peixes-cabeçudos; e quantas vezes se quebrou a bilha de barro destinada a levar a água, que saciaria a sede aos nossos pais e avós. Então os que vinham de Lisboa, estavam sempre ansiosos, desesperados mesmo, se demorássemos muito tempo.
Velhos e bons tempos por lá se passaram!
Os anos foram passando e a velha fonte lá estava isolada, quase esquecida do seu valor patrimonial e, mesmo sentimental, até que sofre a primeira grande alteração. Em 1976, por iniciativa do Dr. António Ramos de Almeida, a mina é tapada com um portão de ferro, é rasgado um largo em redor da fonte e são colocados, pela primeira vez, uns bancos. Esta obra foi executada pelo sr. João Martins Fernandes, nosso bom amigo e ex-consócio, recentemente falecido.
Em finais dos anos 80, a barroca é emanilhada, fazendo desaparecer as poças da nossa meninice e o velhinho “tronco”. Já no decorrer dos anos 90, quando o espaço envolvente se encontrava profundamente degradado, pelo rebentamento da mina ocorrido durante um Inverno rigorosíssimo, fazem-se as grandes obras de remodelação, que tornaram a Fonte Velha no cartão de vistas da nossa povoação e permitiram a recuperação do tronco. A referência é necessária e importante, porque esta recuperação, obra da responsabilidade do sr. Carlos Machado, marca um virar na nossa Comissão: uma nova maneira de olhar o nosso património histórico.
Para se chegar ao local, parte-se do largo Manuel Fernandes e por uma alva avenida ladeada de bancos e canteiros, passamos junto ao telheiro onde estão instalados o forno tradicional e a churrasqueira, para logo de seguida chegarmos a um amplo largo, onde, ao fundo, sob um painel de azulejos identificativos da Fonte Velha, estão três degraus de acesso à bica. O local dispõe hoje, em seu redor, de bancos e amplas mesas forradas a xisto da região e uma estrutura de ferro, que dá apoio a frondosas videiras sempre na esperança que elas proporcionem no Verão, a frescura necessária ao bem estar natural de que ali passa. O local ideal para quem, além de saciar a sede, pretenda o repouso, a meditação, enfim o sossego partilhado durante o dia com o chilrear dos passarinhos e, ao anoitecer, com o “pio” da coruja. Um local onde impera um harmonioso compromisso entre o homem e a natureza, que todos têm por obrigação ajudar a preservar.
A Fonte Velha é hoje muito mais que um simples ponto de abastecimento de água, tornou-se, por si, num amplo espaço de lazer e convívio do agrado de povoenses e de todos quantos nos visitam.
Se for à Póvoa não deixe, de visitar este local e provar esta água, mas se for solteiro, tenha cuidado pois, pode por lá casar!

Os Munhos

“Quem um fole de milho carrega para o munho, tem que trazer de volta outro de farinha” Ditado popular

Muitos de nós quando se fala de moinhos, imaginam um edifício redondo, branco, terminado em bico, com uma grande vela, movendo-se circularmente ao sabor do vento.
Não, não são esses os moinhos da Beira. Dispersos pelas encostas, erguem-se em redor das aldeias, sempre junto a cursos de água. Os moinhos serranos são construções robustas e austeras, em pedra, e exteriormente muito parecidas com o lagar. Mais pequenas, mas com a mesma forma grosseira de trapézio, são erigidas utilizando os mesmos materiais: pedra, telha de canudo, e grossas lajes de xisto.
Embora com as mesmas raízes ancestrais do lagar, como ele muito beneficiaram dos aperfeiçoamentos técnicos introduzidos pelos árabes, mas nunca atingiram o mesmo destaque na vida social das povoações.
Sendo ambas as construções muito antigas, que se confundem com a origem das aldeias, tal a sua importância no quotidiano das pessoas, divergem essencialmente nos conhecimentos necessários ao seu funcionamento e na quantidade de vezes que eram utilizados ao longo do ano. E ainda na importância relativa do produto que “fabricavam”.
O azeite é, desde há centenas de anos, um produto importante e necessário tal a forma como está enraizado na dieta alimentar dos serranos, mas ainda assim longe de ser um alimento vital como a farinha.
O centeio, o trigo, a castanha, e mais tarde, o milho eram a base alimentar das populações serranas. O desenvolvimento, dito natural, da nossa sociedade de consumo alterou um pouco estes hábitos. Hoje, comemos produtos derivados do milho, mais como um petisco do que fazendo parte dos nossos costumes alimentares. Mas, se recuarmos no tempo (e não são precisas muitas décadas), apercebemo-nos, facilmente, da importância destes cereais e do resultado da moagem da farinha, no quotidiano dos serranos.
A broa era o alimento que se comia todos os dias e, em tempos de crise, era muitas vezes o único. Os carolos (moagem mais grossa), além de fazerem parte dos pratos tradicionais, eram o único alimento para as crianças de colo. Naquele tempo não havia papas nem iogurtes e, depois de acabar o leite materno, restavam os carolos, que podiam ser misturados com mel ou leite de cabra. Mas isto era um luxo de que só algumas famílias podiam beneficiar. Mesmo nas festas, nos momentos de alegria e de comemoração, a farinha era imprescindível, dela se faz o bolo mais tradicional e apetecido da nossa terra: o pão-de-ló. Abençoadas as mãos que ainda o sabem “amassar” e cozer na perfeição.
Esta necessidade evidente da farinha fazia com que os moinhos trabalhassem sempre, que tal era preciso. Por esta razão, não podia haver só um moinho e que funcionasse unicamente em determinada época do ano.
Enquanto para a construção do lagar foi preciso juntar as famílias mais abastadas, para custear a sua construção, no caso dos moinhos, cada família com posses edificava o seu. Hoje, fruto de partilhas de várias gerações (o que em parte serve para confirmar a antiguidade destas construções), o lagar é comunitário, tal o número de pessoas que lá têm parte, enquanto os moinhos pertencem às várias famílias que os mandaram construir.
Segundo o levantamento que fizemos, existem ou existiram na Póvoa sete moinhos: Vale de Madeiros, Boiça Pereira, Forninhos, Vale-Servos, Coiceiros, e Amieiro, todos plurifamíliares, e o da Horta, talvez por ser o mais recente, pertencente a uma única família, os Serras.
Como dissemos no início, todos os moinhos se localizavam junto a cursos de água, pequenas ribeiras, fruto das inúmeras nascentes que salpicam os montes da Beira-Serra. Esta localização significa que os moinhos necessitam de água para trabalhar. Ora, como acontece na maioria dos anos, muitas destas ribeiras ficam secas ou com caudal muito reduzido no Verão; nestes casos, era uma situação comum a todos eles, o milho tinha que ser moído na Ribeira de Praçais, no “munho” do Ti-Manel Barrocas, ou então em moinhos de maquia, como o da Mó. A farinha é que não podia faltar.
Moinhos de maquia eram aqueles, em que o moleiro antes de começar a moer o milho, retirava a sua parte, “a maquia”, normalmente uma medida correspondente a uma pequena caixa de madeira, com a forma de alqueire e equivalente a 2 celamins.
A moagem dos cereais, especialmente do milho, era um acto muito vulgar, por isso considerado menor. Envolvendo poucos riscos, bastava pôr a cale que transportava a água na direcção do moinho e acertar “o grau” da moagem. Era uma operação muito demorada e, talvez devido a isso, quase sempre entregue aos mais novos, aos rapazes e raparigas que, no campo, ainda não produziam como os “homens”.
Todos os ciclos importantes à vida quotidiana das populações têm um ponto alto, um dia de culto que os aldeões veneram e cumprem como um ritual, reminiscências óbvias de outros tempos, bem anteriores ao Cristianismo em que se veneram vários ídolos, supostamente com influência positiva nas colheitas e na vida simples das pessoas. O milho, por tão importante, também tinha o seu ritual: “a escapela” e “a debulha”.
Estas animadas noites de trabalho colectivo eram ponto de encontro obrigatório a toda juventude da aldeia. Durante estas sessões, cantava-se ao desafio, contavam-se as velhas histórias das mouras encantadas e das almas atormentadas que penavam pelos arredores das aldeias, nas noites de maior escuridão. Quando acabavam cedo, muitas vezes estas cantorias transformavam-se em bailes muito concorridos e animados pelos instrumentos tradicionais, como a concertina, a guitarra ou a harmónica (gaita). Para a “malta” mais nova, era o princípio de uma noite de brincadeira e divertimento, que muitas vezes durava até de madrugada.
Nessas noites, muitos galos “voavam” das capoeiras e até os carros de bois, por vezes mudavam de lugar…
No fundo a escapela, a debulha, como outras festas de cunho religioso ou profano, como a matança do porco, a festa anual em honra da Padroeira, a passagem do Entrudo, o Natal e a Páscoa, vinha alegrar e aligeirar o calendário da vida do serrano, tão dura e sacrificada durante o ano.
Os munhos foram edificados junto de pequenas ribeiras. As águas utilizadas para a rega dos lameiros eram, quando necessários, desviadas para o interior do munho. Começava, assim, o processo da moagem do cereal.
Esta operação do desvio da água fazia-se tapando o curso normal do riacho, obrigando este a tomar a direcção da cale (tubo aberto em madeira), para assim cair dentro do moinho, mesmo por cima do rodízio. O rodízio, situado na parte inferior e peça fulcral de todo o engenho, é uma roda de madeira que, com a força da água, roda e ao fazê-lo faz movimentar o fuso, também de madeira, que nele está encaixado. O fuso, no seu movimento giratório, fazia, então, mover as pedras (as mós) fixadas na sua parte superior e estas, por força do movimento imprimido, esmagavam os pequenos grãos que iam caindo muito lentamente da moega. A moega, um aparelho de madeira em forma de funil cortado transversalmente, era onde se colocava o cereal e tinha na sua parte mais próxima das pedras, e adelgaçada, a quelha onde caía o cereal. Estava suspensa da moega e dela saía a taramela que tinha na ponta uma roda de cortiça, a qual, rodando sobre a mó, agitava o cereal, fazendo-o cair.
O moinho fazia-se parar, impedindo a entrada de água para cima do rodízio, colocando no seu caminho outra peça de madeira: o pejadouro ou pejadoiro.
O cereal posto na moega, quase sempre carregado pelos mais novos, era transportado em foles contendo, por norma, entre um a dois alqueires.
Os foles eram sacas em pele de carneiro ou de cabra de grande impermeabilidade e resistência, que eram adquiridos aos “matadores” destes animais, quando atravessavam as aldeias, normalmente nas ocasiões mais festivas.
Não estando directamente associados a qualquer festividade, os munhos, são todavia, parte integrante e essencial da nossa história. A farinha, que produziam, era o néctar açucarado dos melhores petiscos, que alguma vez tivemos o prazer de provar.
A finalizar, deixamos no ar uma pergunta, na esperança de servir de reflexão a muitos dos, que ainda, sabem produzir a verdadeira comida serrana: porquê a broa, os carolos, e nabos de farinha, são cada vez mais raros nas mesas da nossa terra? Restam felizmente, as filhós e o pão-de-ló, por isso damos graças a Deus.

Matança do Porco

Um dia falou-se, acidentalmente, da matança do porco e logo surgiu quem sentenciasse:

- "Ah! Hoje já não se matam porcos como antigamente…". Protestei:

- "Calma aí! Algum dos senhores, por acaso, já foi à Póvoa, na altura da Páscoa? É que se fossem, veriam como a tradição ainda é o que era!".

Ninguém pareceu levar-me muito a sério e o melhor que obtive foi um "político": - "Pois, está bem… mas nunca é a mesma coisa".

Chegou, então, o momento de responder ao desafio. Na Póvoa ainda se matam porcos segundo os ensinamentos transmitidos de geração em geração.

Por razões óbvias e que se prendem com a normal evolução da sociedade portuguesa, hoje, felizmente, não é possível recriar o espírito de dependência e de necessidade que sempre envolvia a morte do porco. Todavia, é importante que este mesmo espírito seja explicado aos mais novos, pois ele, acima de tudo, representa muito do quotidiano serrano.

Mas, importa não perder o outro lado da vida de antigamente e que facilmente podemos recordar "encaixando-o" na matança do porco: o espírito de colaboração e de divisão de tarefas. As dificuldades e as agruras da vida obrigavam a que todos se ajudassem mutuamente; e embora hoje não seja socialmente muito correcto, a verdade é que existem tarefas que dizem respeito às mulheres e outras que especificamente são desempenhadas pelos homens.

Às primeiras, cabe tratar cozer a broa, fazer as filhós, talaças, pão-de-ló, arroz doce (mas, do branco), etc… e cuidar, no dia do almoço da matança, do sangue, do picado, dos torresmos, etc… É claro que tudo é feito na aldeia, com produtos locais e segundo os ensinamentos transmitidos de geração em geração.

Aos segundos, está destinado ir às torgas e à carqueja, uns dias antes da matança; e no dia acordado, ir ao curral e trazer os dois porcos para a traseira da Casa da Comissão de Melhoramentos, a caminho da Fonte Velha, onde já estão as coisas preparadas e a tábua devidamente posta. Os animais são trazidos com uma corda atada a uma das patas traseiras e, seguro por três ou quatro homens, é deitado na tábua. A pessoa encarregue de "espetar a faca", espera que o homem que traz o alguidar para recolher o sangue se acomode e tenta acertar no "sítio certo", isto é sem fazer um grande buraco. É de referir que o recipiente onde é recolhido o sangue, tem uma cruz direita desenhada no sal que é posto com abundância no fundo.

Declara a morte do animal, toca de acender a carqueja e com ela esfregar bem o corpo do porco, enquanto uns vão repetindo esta operação; outros, com um pedaço de telha de canudo na mão, tratam de raspar a pele e outro vai lavando a pele suja do bicho, com água corrente tirada da fonte. Pega-se, então, no porco e pendura-se na escadaria que leva ao andar superior da Casa da Comissão e toca de desmanchá-lo.

Como parece evidente, a matança do porco é algo que, querendo, compromete toda uma aldeia, homens e mulheres, novos e velhos, residentes ou vindos de fora. O que é preciso é que se queiram fazer as coisas como deve ser e não arranjar desculpas mais ou menos esfarrapadas.

Lendas e "Estórias"

Basicamente a Póvoa tem duas lendas e que eram contadas pelos mais velhos com reverência e muito respeito. Uma diz respeito à própria aldeia; a outra, mais séria, refere-se à construção da capela. No primeiro caso, a recolha é popular; no segundo, o texto é da autoria do Dr. António Ramos de Almeida, um estudioso destas coisas e profundo amante da sua aldeia.

FUNDAÇÃO DA ALDEIA

Segundo a tradição oral dos anciãos da nossa aldeia, a Póvoa não terá nascido no local onde hoje se encontra, mas sim num local denominado de “Boiça Pereira”, para lá da Portela com o mesmo nome.

Este legado oral, assegura que aí se terão fixado duas famílias, os Moleanos e os Toleanos. Os dois homens terão enviuvado e posteriormente trocado as filhas, para com elas contrair matrimónio. Por isso, ainda hoje se conta, em locais de convívio, o que as filhas diziam uma para a outra, ao verem chegar os seus maridos:

Lá vem Moleano e Toleano nossos pais
Nossos legítimos maridos, pais dos nosso filhos
E maridos das nossas mães.

No entanto, como o local fosse extremamente frio e ventoso, resolveram passar para o local onde hoje se encontra a Póvoa, mais protegido e calmo. Ainda agora, os mais idosos recordam o tempo em que, na “Boiça Pereira”, desbravaram o terreno para fazer as hortas, actualmente designadas de lameiras, e puseram a nu velhas ruínas do que terão sido as paredes das casas e, provavelmente, de um forno. Portanto o que se conta até pode ter algum fundamento de verdadeiro…

CONSTRUÇÃO DA CAPELA

Contava-me a minha avó, que o ouvira ao pai dela – dizia-me o tio António Ferreiro, simpático velho, dotado ainda de uma memória prodigiosa – que, em tempos já muito afastados, viveu na Pampilhosa um senhor muito rico e muito devoto, a cuja generosidade se deve, não só a fundação da capela da Senhora Santa Eufêmia – e dizendo isto tirava o chapéu com respeito – mas também a da Igreja velha que se queimou (1) e quase todas as capelas destas redondezas.

Esse senhor chamava-se Afonso Loureiro e antes de enriquecer governava a vida vendendo sardinha, que “ia buscar lá abaixo com uma cavalanca”.

Ora uma vez, passando pela Serra com uma carga de sardinhas, notou que os pastores se divertiam, atirando ao ar umas bolinhas amarelas muito reluzentes.

- Onde achastes essas lindas bolas, meus meninos? Quereis-mas trocar por uma quarteirão de sardinhas? – perguntou-lhes ele.

- Ó tiozinho, achámo-las ali em baixo. Há lá tantas! Ora venha ver.

E o bom do homem, deixando as sardinhas, carregou mas foi o burro com as bolinhas de ouro. Passando por aqui, antes de chegar à Pampilhosa, edificou esta capela e só depois é que foi mandar fazer a Igreja..

E ainda não há muito tempo (é já da lembrança de minha mãe) que o altar era todo dourado. Mas passaram por aqui uns pintores que iludiram o povo; roubaram o ouro e pintaram-no como agora está.

A outra” vítima” das minhas indagações foi a boa da Ti-Clementina que confirmou ipsis verbis o que acabamos de referir. E mais. A capela da Misericórdia da vila foi também mandada erigir, e de tal modo isso é certo que ainda não há muito tempo, na igreja, se rezava todos os domingos um responso: - “Pela alma de Afonso Loureiro, benfeitor desta igreja”.

(1) – O incêndio da Igreja Matriz deu-se aí por alturas de 1907.

Para dar uma pequena ideia do estado de coisas desse tempo, não resistimos à tentação de reproduzir as palavras que o padre António, coadjutor, natural, creio, da Teixeira, costumava dizer e que amavelmente me reproduziram de memória: - Freguesia da Igreja Queimada, Santos de cabeça cortada, música roubada, Misericórdia numas muletas. Não há mal que não lhe aconteça.

A Capela da Póvoa

A capela da Póvoa, erigida em honra de Santa Eufêmia, situa-se no centro da povoação, mais precisamente no largo primitivo da aldeia, denominado de Eira.

Construção de dimensões reduzidas é composta por uma nave rectangular e pequena sala à esquerda do altar, restaurada recentemente, que serve de sacristia. É uma construção humilde e simples, à semelhança das suas gentes, e apesar das várias remodelações sofridas ao longo dos tempos, mantém um aspecto austero, próprio das dificuldades da vida serrana. De linhas direitas e ângulos rectos, é uma edificação cujos alicerces se confundem com as fragas, que, com abundância, formam o espaço envolvente.

Segundo os estudos levados a cabo pelo Dr. António Ramos de Almeida, a capela terá sido erigida no início do séc. XVII, prestes, portanto, a fazer quatrocentos anos. Para tal, baseou-se numa exaustiva recolha de ditos populares, transmitidos de geração em geração, e num livro encontrado na sacristia da capela.

Escreve, assim, o Dr. António R. Almeida, “A capela que se encontra erigida nesta povoação, dedicada a Santa Eufêmia, virgem e mártir sob o governo de Diocleciano, é um vetusto e venerável edifício, sobre cuja fundação passou já o rolar do tempo, durante o período de mais de três séculos.

Há tempos, um alfarrábio antigo, mal encadernado numa simples folha de carneira e ligado com correias, que encontrei no fundo do gavetão da sacristia, coberto de pó e de sujidade, espicaçou-me a curiosidade.

Peguei nele, com o carinho e o respeito com que Alexandre Herculano manusearia os velhos “cronicons” e pergaminhos da Torre do Tombo, e, depois, de bem espanejado e limpo, li o título do livro:

BAUTISTÉRIO E CERIMONIAL
DOS SACRAMENTOS DA SANCTA
MADRE IGREJA ROMANA
EMENDADO E ACRESCENTADO EM MUITAS COUSAS
NESTA ULTIMA IMPREFFAM, CONFORME O
CATHECISMO & RITUAL ROMANO
EM COIMBRA
NA OFFICINA DE JOAM ANTUNES

E continha a data memorável de 1698. Escritas à mão estão as seguintes palavras: ESTE LIVRO É DE STA. EUFÊMIA DO LUGAR DA PÓVOA

Recentemente e muito por influência do Dr. António Ramos de Almeida, Arnaldo Rodrigues de Almeida e Júlio Oliveira Antão, a capela sofreu consideráveis obras de beneficiação. Destas destacamos a restauração do altar (marcenaria e pintura), pintura da imagem de Santa Eufêmia, construção de nichos no interior, restauração do arcão da sacristia, cruzes na via-sacra, peanha de pedra na sacristia.

Hoje, a capela, apresenta um aspecto limpo, arejado, bonito mesmo e que merece a visita de qualquer um.

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