Póvoa da Raposeira é uma povoação encravada numa depressão entre os rios Zêzere e Unhais. A sua posição no inicio de um vale profundo e com elevada inclinação confere-lhe características únicas nas Serras da Pampilhosa. Situa-se a uns 5 Km da sede de freguesia Unhais-o-Velho, e a cerca de 26 Km da sede de concelho Pampilhosa da Serra.
População
Gente ordeira, rude, séria e trabalhadora", conhecida pela sua luta titânica em todo o Concelho, longe de tudo e de todos, palmilharam durante anos a pé, os vinte e seis quiló,etros de distância ao concelho, muitas vezes debaixo de chuva e de neve, para irem ao mercado ou simplesmente pedir um documento. Ou pior, quando algo tinha que ser julgado em tribunal, uma simples multa, lá tinham que ir a pé até Arganil.
Contava-se que um velho, poço de saber e de recordações, que já não faz parte do mundo dos vivos, que por ter construído um capoeiro para galinhas perto da casa, um belo dia lhe aplicaram uma multa de um valor insignificante. Pois teve que ir pagá-la a Arganil.
Enquanto nas Minas da Panasqueira se explorou o volfrâmio, a Póvoa foi sempre uma das povoações que mais gente teve ali empregada, subindo e descendo por montes e vales. Farnel às costas para se enterrarem debaixo daquela montanha, quais mortos vivos, cavando a sepultura de tantos e tantos chefes de família, que morreram na flor da idade, com a silicose deixando os filhos, simples meninos por criar.
As mulheres grandes heroínas desses tempos, esposas e mães de luta, no "saltipilha", garimpando o ouro negro, dos restos de minério nos aterros, percorreram em muitos casos cerca de 11 Km, carregavam às vezes os filhos de tenra idade, em cestas à cabeça, serra abaixo serra acima, ajudando assim os maridos nos proventos para a casa.
A Gente da Póvoa foi sempre "pobrete mas alegrete". Nas tardes de domingo esqueciam-se as tristezas, e, no terreiro dançava-se ao som da concertina ou da flauta um fado o vira mandados e jogos de roda. Muitas vezes depois do jantar, os homens reuniam-se e agarravam nas suas guitarras e violas, cantava-se o fado à desgarrada, em "ruadas", que quase sempre davam a volta completa pelas Seladinhas e Portas do Souto.
"Três Terras se juntaram,
para jurar uma bandeira,
Portas do Souto, Seladinhas
e a Póvoa da Raposeira."
A Póvoa foi sempre terra de fadistas e poetas. Na inauguração da electricidade da Pampilhosa, tendo sido convidados para representarem a freguesia, os seus artistas, cantavam de entre outras quadras acompanhadas ao banjo, à guitarra e à viola:
"Esta Vila já tem luz,
vinda do nosso rincão,
Unhais fica às escuras,
tenham de nós compaixão."
Terminada a segunda guerra mundial, Portugal entra em grande recessão económica e a as gentes da Póvoa não fogem à regra.
A única fonte de rendimento que era a exploração do Volfrâmio, entra em queda e aos "Raposos" só lhe resta irem para as ex-colónias, com um contrato de trabalho pagando antecipadamente viagens de ida e volta. Os chefes de família um a um, deixam as mulheres entregues às lides do campo e à tarefa de criarem os filhos, e lá vão na "aventura das Áfricas". Por lá trabalharam como escravos e ali se fixaram, em muitos casos acreditando em demasia, aplicando o produto de muitos anos do seu trabalho e em alguns casos o que por cá tinham deixado e venderam. Com a guerra do Ultramar (década de sessenta), nasce uma nova geração de emigrantes, o destino desta feita é a Europa, especialmente para França, onde hoje se radicaram mais de uma dúzia de famílias, ali se fixam e lhe nascem os seus filhos e agora também os netos. Contudo, no Verão não esquecem o seu torrão natal, onde construíram a sua casinha e aqui estão durante um mês matando as saudades.
Depois do 25 de Abril, os emigrantes do Ultramar regressam de novo ao seu cantinho. Aqueles que ainda estavam capazes, agarram-se de novo ao trabalho da mina, onde chegaram a trabalhar mais de quarenta homens. Os mais velhos, esses foram ficando pela aldeia muitas vezes retomando o trabalho do campo. Foi com o regresso desses "filhos pródigos", após o 25 de Abril, que a vida na Póvoa sofreu alguma transformação:
Instala-se a electricidade e a água ao domicílio na maioria das habitações e consequentemente fazem-se instalações sanitárias dentro de casa.
- Melhora-se a qualidade das habitações, as terras voltam a cultivar-se na sua quase totalidade.
- As vias de comunicação são fortemente melhoradas, a Póvoa fica assim com um contacto com o mundo exterior, que nos permite hoje viajar de Lisboa em cerca de três horas.
- A construção do Centro de Convívio, orientado pelos elementos da Liga de Melhoramentos, com o apoio e de todos os seus habitantes e em verdadeiro sacerdócio da parte de alguns, foi o último grande melhoramento da Póvoa.
Actualmente a Póvoa da Raposeira apresenta uma população residente algo envelhecida, mas a luta pelo pedaço de mundo, que é só seu, molda de forma extraordinária a aldeia. Casas novas ou recuperadas e um ambiente circundante de sonho.
Fonte de Informação
- Site da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra
- Site sobre Póvoa da Raposeira com texto original de Armindo Antunes
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